Como cultivar o Equilíbrio Emocional?

“Tenho certeza de que todas as pessoas têm interesse em ter uma mente clara, em ter bem-estar mental e bem-estar emocional. E a implicação deste título é que equilíbrio é a chave para o bem-estar mental e emocional. Portanto, como iremos cultivar isso?

Acho que todos nós sabemos pela nossa própria experiência, que nossas mentes podem ser nossas piores inimigas, podem nos deixar loucos! Se nos sentarmos em nossos quartos em silêncio, sem nenhum estímulo do ambiente podemos nos tornar verdadeiramente infelizes. Apenas devido à ruminação, aos pensamentos que vêm às nossas mentes, sendo apanhados e aprisionados nas garras do que os psicólogos chamam de ruminação. Em outras palavras, sabemos que podemos nos tornar infelizes sozinhos, sem nenhuma ajuda externa.

E muitas se não todas as pessoas sabem que também é possível permanecer sentado quieto em seus aposentos, quieto em sua caverna, quieto em lugar sereno na natureza, com pouco ou nenhum estímulo do ambiente, e ter a sensação de estar verdadeiramente bem, feliz. E você olha à sua volta e pensa “o quê está me fazendo feliz?” e… você não consegue encontrar nada do lado de fora.

Essa sensação de bem-estar está vindo de dentro. E então, todos nós devemos ser “Sherlock Holmes” agora. Rastrear isso até sua fonte. É um trabalho interno!
Algumas vezes, podemos ter uma elucidação mais clara sobre o que está havendo em nossa experiência subjetiva observando a própria experiência subjetiva buscando uma explicação psicológica. Então, sugiro que a atenção é a chave. Uma pessoa que pode controlar sua atenção pode ter controle sobre o tipo de realidade que tem a sensação de estar experimentando e vivenciando. Afinal, como William James, um grande pioneiro da psicologia moderna, afirmou:
“A cada momento, aquilo a que prestamos atenção é a realidade”

Levamos a sério e consideramos real apenas aquilo a que estamos atentos. Então, quando nossa mente está tomada por uma hiperatividade da atenção seja clinicamente diagnosticada ou não acho que todos nós temos idéia de como é. Quando a mente se parece a um trem desgovernado como um elefante no cio, segundo a grande e clássica metáfora indiana, podemos sentir uma aflição enorme.

Em especial quando essa ruminação, este fluxo obsessivo e compulsivo de pensamentos é negativo: Insistir em infortúnios do passado, no mal comportamento de outras pessoas, negatividades de um tipo ou de outro nos aprisiona e subjuga. Nós realmente nos tornamos vítimas de nossas próprias mentes.

Portanto, se estamos buscando o equilíbrio mental, equilíbrio emocional, enquanto nossa mente ainda estiver propensa a tal ruminação negativa, em tal hiperatividade da atenção, com uma mente que está realmente fora de controle e que por consequência como que nos arrasta, enquanto somos propensos a isso ou na medida em que somos propensos a isso, o equilíbrio mental e emocional será um ideal inalcançável.

Se pensar em si mesmo como sendo um cérebro e em todos os problemas psicológicos como sendo cerebrais você chegará a conclusão de que a forma de tratá-los é apenas dizer sim à alguma droga. Ainda que as drogas psicofarmacêuticas possam ser valiosas, penso que é uma limitação paralisante pensar que esta seja a única forma. Se estamos realmente buscando equilíbrio mental, equilíbrio emocional como penso que todos nós estamos, ou ao menos bem-estar como podemos treinar esta besta selvagem, a atenção? Trazer equilíbrio a ela. Para que quando desejarmos ficar quietos, tenhamos essa opção. Quando desejarmos ter um fluxo livre de pensamentos, sonhar acordados, tenhamos essa opção. Bem como pensar criativamente, analiticamente, pensar sobre o passado e antecipar o futuro, tenhamos essa opção. E quando quisermos apenas ficar quietos, atentos, receptivos conversando com uma criança, um amigo, sua esposa, numa reunião de negócios, educação, etc apenas desejar ficar totalmente em silêncio, não quero dizer ficar aéreo, quero dizer presente, com discernimento apenas assimilando a realidade ao invés de insistir em dialogar o tempo todo. Como?

Não basta querer algo. Você precisa conhecer suas causas — as circunstâncias e condições que precisam se encontrar para que você realize o que deseja.

Se for um bolo de chocolate, você pode sentar o dia inteiro rezando “Que bolos de chocolate caiam do céu! Que eles se materializem no forno!” Provavelmente não dará certo. Mas se você aprende como fazer um bolo de chocolate, aí sim, você tem o desejo, a aspiração, a intenção, os ingredientes e então terá seu bolo de chocolate.

Portanto, por que esse processo seria diferente para a felicidade genuína? E por que seria diferente para ganhar uma liberdade cada vez maior do sofrimento, mais serenidade, paz interior, equilíbrio da mente?”

— B. Alan Wallace


O Programa Cultivating Emotional Balance (CEB)  teve início em uma Conferência do Mind and Life Institute em Dharamsala em 2000; o tema dessa reunião, que envolveu um grupo de cientistas, filósofos e monges com SS o Dalai Lama, foi emoções destrutivas. Paul Ekman, falou sobre “A Evolução da Emoção Humana”. Outros cientistas falaram sobre a psicobiologia das emoções destrutivas e sobre neuroplasticidade, incluindo a sua relevância para a educação moderna. Este encontro foi descrito no livro “Emoções Destrutivas”, de Daniel Goleman.

Sua Santidade  o Dssdl-alan-wallacealai Lama pediu que as idéias para melhorar a vida emocional discutidas nessa reunião fossem implementadas. Paul Ekman e Alan Wallace assumiram esse desafio e desenvolveram o primeiro currículo do CEB (com colaborações de Richard Davidson, Mark Greenberg e Matthieu Ricard), que foi oferecido pela primeira vez em 2002.

Foi então realizado um projeto de pesquisa com base no CEB, elaborado por Ekman e Kemeny e realizado por Kemeny – a pesquisa revelou importantes benefícios derivados do treinamento do CEB. Os participantes demonstraram uma diminuição muito significativa em graus de depressão, ansiedade e hostilidade durante o período de 5 semanas. Além disso, os participantes relataram um aumento significativo nas habilidades afetivas e demonstraram uma melhoria significativa na capacidade de detectar formas sutis de expressão facial das emoções.

No período pós-treinamento, os participantes demonstraram um padrão de resposta que sugeriu menor reatividade emocional e fisiológica ao estresse em comparação com a sua reatividade antes do treinamento. Em outras palavras, o treinamento foi capaz de protegê-los contra os efeitos fisiológicos e psicológicos negativos do estresse. Resultados adicionais mostraram que estes participantes melhoraram a relação com seus parceiros. A eficácia da comunicação foi melhorada não só no ambiente de trabalho, mas também no ambiente doméstico.

 

Os Quatro Equilíbrios

O principal objetivo do Programa é oferecer recursos para que o participante cultive o mais elevado grau de bem-estar por meio de diferentes tipos de meditação – silenciosas, analíticas e discursivas.

Neste contexto, “bem-estar” equivale ao que os gregos chamaram de eudaimonia, ou felicidade genuína, aquela que deriva do que cultivamos e trazemos ao mundo, de forma não condicionada e não modulada pelas circunstâncias externas.

O bem-estar é o resultado do cultivo de quatro inteligências que resultam em quatro equilíbrios:

Equilíbrio Conativo – refere-se discriminar intenções e desejos e alinhá-los ao cultivo do bem-estar de si mesmo e dos outros

Equilíbrio da Atenção – equivale a “afinar o instrumento” da nossa atenção, para que possamos focar no que realmente importa. Como disse o pioneiro da psicologia ocidental, William James, “a cada momento, aquilo em que prestamos atenção é a realidade”

Equilíbrio Cognitivo – a inteligência desenvolvida aqui é a de perceber da forma mais clara possível o que a realidade está nos apresentando, identificando o papel do observador na interpretação da realidade

Equilíbrio Afetivo – nosso bem-estar é diretamente influenciado pela qualidade das nossas relações e vice-versa. Aqui cultivamos um novo olhar para nós mesmos e para o outro.

Neste vídeo, o Professor Alan Wallace explica em detalhe como esses equilíbrios se interrelacionam e conduzem ao bem-estar mental e emocional.

Ative a legenda no canto inferior direito do vídeo, caso elas não apareçam. 


O programa CEB, assim como palestras e oficinas baseados nele, vem sendo oferecido por professores certificados pelo Santa Barbara Institute for Consciousness Studies no programa Cultivating Emotional Balance por todo o mundo. Confira abaixo mais informações sobre os professores, as próximas datas e locais onde o curso será oferecido:

CEB Completo – no Rio de Janeiro com Duda Nascimento.

CEB Completo – em Portugal com a Dra. Elisa H. Kozasa.

Oficina “Inteligências do Coração” – em São Paulo com Jeanne Pilli.

Workshop “A felicidade é uma habilidade?” – no Rio de Janeiro com Duda Nascimento. 

Para mais datas no Brasil, fique atento ao site do Cultivating Emotional Balance – Brasil.

Comentarios:

comments

  • geSSe

    Muito bom, muito bom. Quando lemos e vemos o Alan Wallace falando, parece simples. Porque conseguimos entender. Mas num momento seguinte, já estamos pensando em várias coisas, perdendo o foco, perdendo a presença. Parece simples mas está longe de ser. Mas só de perceber isso, de querer aprender, acho que já estamos dando um grande passo. Obrigado pelos ensinamentos. Aliás, que bacana, percebi que quando conseguimos estar “presentes”, começamos a sentir o nosso corpo, por um momento eu percebi meus pés, que não estavam bem posicionados ao chão, minha perna estava tensa. Demais, muito bom conseguir estar o mais presente possível.