“Nossa mente pensante é muito útil, essencial. Não há nada errado em ter pensamentos. O problema é apenas quando nos identificamos com esses pensamentos, quando pensamos “este sou eu, isso é meu”. E nós nos identificamos com nossos pensamentos. Nós nos identificamos com nosso senso de gênero, raça, nacionalidade, profissão, nossas memórias, de nossa infância, e as lições e assim por diante, o que fizemos ontem, o que fizemos esta manhã, nossas opiniões, juízos, crenças… “Isso é o que faz eu ser quem eu sou! ” Portanto, na perspectiva do Dharma, este é o nosso desconhecimento essencial, esta é a nossa ignorância essencial. Em sânscrito é “avidya”, o que significa exatamente isso, “não saber”. Nós não sabemos quem realmente somos.
É, quero dizer, sem solidificar isso, é como um ator que está interpretando um papel e, enquanto eles estão interpretando o papel, ele se identifica absolutamente com o seu papel. Se ele é um bom ator, ele se torna o personagem que ele está interpretando, mas, se quando ele vai para fora do palco ele ainda pensa que é Hamlet … ele tem um problema!”
Olá Pessoal, aqui quem fala é Luis Oliveira. No momento em que você lê esta mensagem, não seria exagero eu lhe dizer “Pare tudo o que você esta fazendo e assista isso!”. A fala do vídeo abaixo, da Jetsunma Tenzin Palmo, é natural e bela, toca em questões fundamentais da nossa mente e explica de forma clara as bases do budismo tibetano. A maneira como ela se expressa é calma e lúcida, mas desafiadora.
Não espere mais uma palestra comum, que assistimos de forma distante, ou um TED daqueles que ficamos super-empolgados em mudar o mundo ao final de 18 minutos. O que Jetsunma faz é muito mais que isso. Este vídeo é muito importante, mas não merece ser assistido de forma passiva. Ele merece ser assistido de forma investigativa.
Que possamos, como a Jetsunma nos diz, descobrir o que está por trás do vai e vem da nossa mente pensante. E nós podemos descobrir se o que ela diz, é verdade ou não, de forma empírica, em primeira pessoa.
Assim, em conjunto com o os amigos Fábio Valgas, Marcos Bauch, Elder Martins e Gustavo Gitti, traduzimos o vídeo para legendas em português com a aspiração de que ele possa servir de ajuda a todos que tem interesse no budismo e em conhecer a própria mente.
Ative a legenda no canto inferior direito do vídeo
“Nosso sofrimento e nossa felicidade dependem da mente e frequentemente culpamos as circunstâncias externas, outras pessoas, a situação econômica, o governo, o mundo, o samsara por nossos problemas. Mas, se realmente examinarmos, o problema real é interno e é claro que isso é realmente uma boa notícia porque, enquanto nós podemos mudar a nós mesmos, é muito difícil mudar o resto do mundo. (…)
O principal problema para nós são as emoções aflitivas ou negativas, que residem em nosso fluxo mental. Como nossa ganância e fixação. Nosso apego é um grande problema para nós porque nos faz prender e agarrar, e temer a perda. Nós tendemos a solidificar tudo e desejar que as coisas permaneçam como estão que as pessoas permaneçam como estão que tudo fique como está… se é agradável para nós, pelo menos, que isso se mantenha para sempre e, é claro, tudo está mudando, tudo é impermanente. De modo que o nosso próprio apego cria um estresse porque em nossos corações sabemos que não podemos segurar para sempre.
Portanto não são os objetos, não são as relações, não são as posses… esses não são o problema. O problema é sempre o nosso apego e fixação a essas coisas, é isso que causa os problemas. (…)
É um consenso em todas as tradições que nós precisamos nos tornar mais conscientes da nossa mente, “o que está acontecendo lá?”, de tal modo que, quando emoções negativas surgirem (ganância, raiva, orgulho, inveja) nós saibamos. Na verdade, o jeito mais rápido de lidar com nossas emoções negativas que nos causam tanta dor, causam tanta dor para nós e tanta dor para os outros… o jeito mais rápido, sem contar o uso de antídotos, o jeito mais rápido é apenas reconhecer. “Agora, agora mesmo estou com raiva. A raiva surgiu”. E então decidir o que fazer. Podemos alimentar a raiva, podemos aplicar um antídoto, como a paciência, ou podemos simplesmente deixá-la ir. (…)
Nós precisamos pegar as coisas bem no começo, antes de falarmos, antes de atuarmos, qual a nossa intenção genuína? E se a intenção, se formos honestos, se a intenção estiver misturada com raiva, irritação, ou ganância, ou desejos, desejos negativos ou com inveja, ou com qualquer outra inflação do ego, etc, nos podemos capturá-la! E dizer: “Não, isso é intenção negativa. Intenções negativas levam a falas negativas e ações negativas”. É muito simples.
O problema normalmente é que somos levados pela correnteza dos nossos pensamentos e agimos e falamos antes mesmo de estarmos conscientes do porquê de estarmos fazendo isso. Assim, essa habilidade de manter-se um passo atrás e olhar o que realmente está acontecendo antes de nos precipitarmos em falar ou fazer e, assim, tentar manter nossas intenções amáveis. Seria um mundo muito diferente do que conhecemos se as pessoas fossem simplesmente mais amáveis.”
— Jetsunma Tenzin Palmo
Jetsunma Tenzin Palmo
Jetsunma Tenzin Palmo nasceu em 1943, na Inglaterra. Praticou por 12 anos em retiro em uma caverna no Himalaia. Aluna de Khamtrul Rinpoche, tornou-se a segunda mulher ocidental ordenada no budismo tibetano (escola Drukpa Kagyu) e fundou um monastério de monjas, onde é a responsável hoje em dia, além de oferecer palestras e retiros pelo mundo todo. Em maio de 2014, ela esteve no Brasil para um retiro, você pode conferir o retiro na integra, clicando aqui. Em 2015, é possível que ela volte no segundo semestre, fique atento e informe-se. Se você quiser saber como apoiar o monastério de monjas fundado por Jetsunma, veja aqui.
Ano passado, a Lúcida Letra, editora do Vítor Barreto, lançou o primeiro livro da Jetsunma em português, ”No coração da vida: Sabedoria e compaixão para o cotidiano”, a venda aqui.
Mais…
Confira mais alguns posts e trechos dela que já publicamos:
A prática da meditação e sabedoria no cotidiano. Precioso ensinamento.
Tenzin Palmo e o caminho para a transformação da mente
Tendências infantis que nos impedem de viver o presente.
”A nossa consciência primordial, que está por trás do vai e vem de nossa mente pensante, é como o céu vasto e azul, que normalmente é coberto por espessas nuvens, e assim, ao contrário de hoje, que podemos ver o azul luminoso do céu, normalmente nossa mente é coberta por nuvens muito espessas, elas podem ser nuvens brancas, elas podem ser nuvens negras, mas elas são apenas nuvens. Mas, como as monções indianas, elas continuam para sempre e você nunca consegue ver o céu e nos esquecemos de que há um céu. Ficamos fascinados pelas nuvens, e é com elas que nos identificamos.”
Jetsunma Tenzin Palmo