Nós somos o outro

Não somos crianças inocentes vitimadas por um grande mundo malvado. Se nosso mundo é grande e mau, nós o fizemos dessa maneira. Isso é o que o Buda ensinou. O “outro” é um bicho-papão infantil, a projeção de nossos próprios medos em um objeto assustador de nossa imaginação, que nos aterroriza. Nossa ignorância é não ver que nós somos o outro. Não podemos nos permitir confundir inocência com essa ignorância.

A violência não é um objeto permanente, imutável e fixo. É um estado da mente, uma expressão da ignorância. Não tem mais solidez que uma nuvem. Não podemos lançar um ataque frontal na violência. Mesmo proteger a nós mesmos disso abastece sua existência de bicho-papão. Mas o Buda ensinou que podemos mudar.

Essa foi sua boa notícia: existe uma maneira de aliviar o sofrimento através da libertação de nossas mentes da cobiça, raiva e ignorância. Mas até que entendamos os modos como somos Oklahoma City, as bombas e os filhotes de ursos, as vítimas e os violadores, continuaremos a acusar os “outros”, sempre proclamando nossa inocência e fugindo de nossas responsabilidades.

Helen Tworkov, em “Tricycle: The Buddhist Review, Vol. V”

O que faz uma pessoa boa ou má

No mundo de hoje, quando dizemos que alguém é uma pessoa boa ou má, no que se baseia essa distinção? Aqueles com amor e compaixão geralmente são conhecidos como pessoas boas que valorizam a sabedoria. Aqueles que não mostram tais qualidades costumam ser considerados pessoas ruins. Mesmo animais podem perceber isso.

O famoso mestre Shantideva disse: “Considere isso: o Buda sempre trabalhou pelo benefício dos seres sencientes sem qualquer apego ao ego, e se iluminou. Nós gastamos todo nosso tempo nos apegando ao ego e trabalhando para nós mesmos, e ainda estamos no samsara, cercados por todas essas dificuldades”.

Mesmo se não soubéssemos muito sobre o Buda, todos temos conhecimento sobre as pessoas extraordinárias que apareceram no mundo e efetivamente trabalharam para aliviar o sofrimento dos seres sencientes. Milhões de pessoas sabem seus nomes e apreciam suas atividades não-egoístas, embora eles tenham morrido há séculos. Por que ainda são lembrados? Por terem corporificado o espírito da bodhicitta e trabalhado pelo bem alheio, seus nomes e feitos são considerados sagrados nos corações de muitos.

Há outros que são tão famosos por prejudicar e matar centenas de milhares. Embora tenham morrido há muito tempo, ainda são criticados. Por que? Porque mostraram os efeitos negativos da ignorância grosseira e do apego intenso ao ego ao trazer malefício a muitas pessoas.

Khenchen Palden Sherab (Tibete, 1942 ~)
“Door to Inconceivable Wisdom and Compassion”, cap. 1

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