Uma Prática de Bodhicitta | Pema Chödrön

Publicado originalmente em inglês no site Lions Roar. Tradução: Alessandra Gusatto

Pema Chödrön oferece um método para gerar amor e compaixão por todos os seres humanos.

A melhor maneira de começar esta prática é pensando em uma pessoa cujo sofrimento você sinta fortemente e cuja felicidade seja muito importante para você. Poderia ser alguém que você conhece ou conheceu ou alguém que você viu na rua ou sobre quem leu no jornal. O pensamento sobre determinadas pessoas acende naturalmente e facilmente a bodhicitta em nós: importamo-nos com eles e não queremos que sofram. Pense em tais pessoas e caso você sinta amor, gratidão ou compaixão por elas, diga: “Que elas possam ficar livres do sofrimento e da raiz do sofrimento; que possam experimentar felicidade e a raiz da felicidade.”

Há dois aspectos a trabalhar com a bodhicitta, ambos de igual importância: um é conectar com o fluxo da bodhicitta que já sentimos e o outro é estarmos ligados em onde o fluxo está bloqueado. Assim você pode fazer esta prática não somente pensando em pessoas com as quais se importa, mas também visualizando pessoas que não gosta. É importante ter uma atitude imparcial e compassiva em direção ao que quer que surja.

Pense, agora, em uma área do mundo que seja bastante turbulenta, uma zona onde você sabe que as pessoas e os animais estão sofrendo muito. Quando tiver escolhido o lugar, pense nos homens lá, e diga: “Que todos possam estar livres do sofrimento e da raiz do sofrimento neste lugar; que todos possam experimentar felicidade e a raiz da felicidade.” Dê a você mesmo um tempo. Tire alguns minutos.

Pense então em todas as mulheres daquele lugar e deseje que elas também possam estar livres do sofrimento e da raiz do sofrimento e que possam experimentar felicidade e a raiz da felicidade.

Pense então em todas as crianças daquele lugar e deseje que estejam livres do sofrimento e da raiz do sofrimento e que possam experimentar felicidade e a raiz da felicidade.

Finalmente, pense em todos os animais naquele lugar, os mamíferos, os pássaros, os peixes, os insetos e todos os outros animais e deseje que estejam livres do sofrimento e da raiz do sofrimento; que possam experimentar felicidade e a raiz da felicidade.

Imagine, então, todos os homens no mundo que estão morrendo de fome neste exato momento e deseje que eles possam se livrar do sofrimento e da raiz do sofrimento; que possam experimentar felicidade e a raiz da felicidade.

Imagine então todas as mulheres no mundo que estão morrendo de fome e deseje que cada uma delas, morrendo de fome no mundo inteiro neste momento, possam estar livres do sofrimento e da raiz do sofrimento e que possam experimentar felicidade e a raiz da felicidade.

Imagine todas as crianças que estão morrendo de fome neste exato momento em toda a terra e deseje que elas também possam estar livres do sofrimento e da raiz do sofrimento; que possam experimentar felicidade e a raiz da felicidade.

Imagine, então, todos os animais no mundo que estão morrendo de fome neste exato momento e deseje que cada um deles, no planeta inteiro, possa se livrar do sofrimento e da raiz do sofrimento; que possam experimentar felicidade e a raiz da felicidade.

Tenha então em mente todos os homens neste planeta, caso você os respeite, seja imparcial com relação a eles ou considere-os pessoas ruins e deseje que possam estar livres do sofrimento e da raiz do sofrimento. Deseje que possam experimentar felicidade e a raiz da felicidade, porque se todos os homens neste planeta pudessem estar livres da raiz do sofrimento e pudessem experimentar a raiz da felicidade – se pudessem estar livres de todo o auto-centramento que causa tanta dor – nós estaríamos em paz.

Faça o mesmo com todas as mulheres no planeta, caso goste ou não goste delas ou seja imparcial, e deseje que todas também possam estar livres do sofrimento. Se todas as mulheres na terra pudessem estar livres da raiz do sofrimento e experimentar a raiz da felicidade, o mundo estaria em paz.

Agora faça o mesmo com todas as crianças na terra, caso goste ou não goste delas ou seja imparcial com relação a elas. Deseje que possam estar livres do sofrimento, porque se todas as crianças na terra pudessem estar livres da raiz do sofrimento e experimentar a raiz da felicidade, o mundo estaria em paz.

Finalmente, faça o mesmo com todos os animais do mundo, caso goste ou não goste deles ou seja imparcial, e deseje que todos também possam estar livres do sofrimento. Se todos os animais na terra pudessem estar livres da raiz do sofrimento e experimentar a raiz da felicidade, o mundo estaria em paz.

Às vezes quando fazemos este tipo de prática de bodhicitta, tocamos pessoas que imediatamente despertam ternas emoções em nós. Outras vezes, porém, sentimos apenas torpor. E há vezes em que entramos em contato com a dureza de nosso coração. Notar isto é muito bom porque nos mostra quando estamos abertos e quando estamos fechados. Deveríamos observar todas estas coisas com compaixão e bondade para com nós mesmos, pois quanto mais somos capazes de sentir ternura por nós mesmos, mais facilmente esta ternura flui para os outros.

Pema Chödrön é uma monja, que pratica na tradição do budismo tibetano. Foi uma discípula de Chögyam Trungpa Rinpoche, cujos ensinamentos ela continua a disseminar entre estudantes ocidentais do mundo inteiro. Nascida na cidade de Nova York, em 1936, Pema tem 2 filhos adultos e 2 netos. Formada pela Universidade da Califórnia, em Berkeley, foi professora primária por muitos anos, no Novo México e na Califórnia. Pema já havia passado dos 30 anos quando se ligou pela primeira vez aos ensinamentos budistas. Em 1971, ela viajou para os Alpes franceses, onde encontrou o Lama Chime Rinpoche, com quem estudou por muitos anos. Tornou-se uma noviça em 1974, enquanto estudava com Lama Chime, na Inglaterra.

O primeiro encontro de Pema com seu guru-raiz, Chögyam Trungpa Rinpoche, foi em fevereiro de 1972. Lama Chime encorajou-a a trabalhar com Trungpa Rinpoche e foi com ele que Pema, finalmente, se ligou mais profundamente. Pema estudou com Trungpa Rinpoche de 1974 até a morte de dele, em 1987, recebendo dele sua ordenação plena em 1981. Pema continuou a estudar com grandes mestres das linhagens Kagyü e Nyingma do budismo tibetano.

Atualmente, Pema é professora residente na abadia Gampo, um centro monástico situado em uma área de duzentos acres, à beira-mar, sobre as falésias do cabo Breton, na Nova Escócia, no Canadá. Pema é uma Acharya (professor senior) de Shambhala International e, quando não está em retiro fechado, na abadia Gampo, viaja pela Europa, Austrália e América do Norte, ensinando a grandes audiências.

Pema Chödrön é a autora de  “Comece onde você está“, Editora Sextante, “Os lugares que nos assustam” e “Quando tudo se desfaz”, Editora Gryphus.

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