A raiva é uma emoção inútil

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Alguns dizem que a natureza básica do ser humano é agressiva, outros dizem que é gentil. Ambos têm certo grau de razão, mas entendo que a natureza básica do ser humano é gentil, porque todo mundo quer alegria, não sofrimento.

A importância do amor e da tranqüilidade — Quando no ventre da mãe, antes de nascer, o estado tranqüilo da mãe é vital para a saúde da criança. Depois de algumas semanas de nascimento, o toque físico na criança é vital para o desenvolvimento adequado da mente.


Portanto, durante esse período — e aqui não se está falando de religião e fé — a gentileza e a bondade são vitais para a criança.

Depois, quando se trata de educar uma criança, aquelas que têm uma atmosfera gentil, de apoio, aprendem e se desenvolvem mais; as que não recebem afeto humano se desenvolvem menos. Isso mostra claramente a necessidade do amor, e de uma atmosfera afetiva.

A compaixão, o cuidado gentil, são qualidades predominantes em seres humanos. Também vemos seres humanos se expressando de modo violento, mas isso se deve ao mau uso da inteligência e ao desejo — que terminam por gerar estados mentais nada agradáveis. E esses não são aspectos mentais de nossa natureza básica.

Usualmente vemos no jornal, rádio, televisão atrocidades, atos negativos, e a partir disso concluímos que a natureza humana é negativa. E nos perguntamos por que essas coisas negativas se tornam usuais. Essa nossa reação mostra que atividades como a compaixão e o cuidado são naturais. Por isso os tomamos por habituais. O crime, o assassinato, as ações violentas são um pouco fora da natureza humana, e por isso são notícia. Na sociedade humana, as atividades de ajuda e compaixão são predominantes — e por o serem, não são notícia.

Se analisamos de perto as atividades humanas, veremos que a parte dominante das atividades humanas são as compassivas e generosas, não as agressivas. Nesta manhã vimos que a raiva e ódio são coisas que fazem mal a nossa saúde. O nosso corpo sente-se bem com emoções positivas, e sofre com as negativas.gaiola

Como chegar à não violência — Para enfrentar a raiva, o ódio, o ciúme e as demais emoções negativas, temos que analisar o que são e de que forma agir em relação a eles. Hoje em dia é muito comum se falar sobre paz e não violência como uma coisa positiva. Mas qual é a linha que separa a violência da não violência? A verdadeira linha que as separa é a motivação e a resolução.

Para que se possa promover a não violência, temos que cultivar a compaixão, o senso de cuidado com os outros. Temos que controlar nossas emoções negativas. E se nós tentarmos suprimir essas emoções à força, não conseguiremos.

O controle está ligado a conhecer, analisar essas emoções e, com base nessa análise, escolher um caminho diferente. Se você tem o objetivo de ser uma pessoa com potencial de ajudar os outros, será necessário ter uma atitude perante um dos fatores que mais bloqueiam nossa ação positiva nesse sentido: a raiva e o ódio. Terá que ter uma atitude capaz de lidar com esses sentimentos. E o antídoto mais eficaz contra eles é a paciência.

Os malefícios da raiva — Que benefício a raiva pode trazer? Às vezes pensamos que ela vem em nosso socorro: em uma situação trágica, a raiva parece nos dar mais coragem e energia. Sob essa perspectiva, seria algo que nos ajudaria a superar uma situação difícil.

Mas a energia que vem da raiva é cega, não tem nenhuma sabedoria, e traz o potencial de fazer com que você se auto-destrua. A raiva bloqueia nossa capacidade de discernimento, e cega nossa inteligência.

155106_270946063026831_1127575128_nPor exemplo: às vezes perdemos a cabeça e dizemos palavras absurdas, depois nos sentimos envergonhados, temos vergonha do que dissemos, de nossas palavras impensadas. No momento em que a raiva tomou conta, perdemos a capacidade de pensar e de discernir.

A raiva também não faz bem a nossa saúde. Algumas vezes, quando queremos atingir um inimigo, deixamos a raiva nos guiar. Não é certo que conseguiremos atingir o inimigo, mas uma coisa é certa: prejudicaremos a nós mesmos.

Se temos um inimigo que resolve nos perturbar, quando reagimos estamos deixando que a situação continue a se desenvolver. E, mesmo depois que terminou, continuamos a sentir raiva — deixando que a situação nos perturbe mesmo depois de terminada. Se, no entanto, temos paciência, a situação irá acabar por si mesma.

A raiva causa dor de estômago, mal estar, em nós. E o inimigo pode até se regozijar com isso.

Temos que tomar atitudes de uma maneira pensada, sem perder a paz de espírito. Aqueles que tem alguma prática de compaixão e tolerância conseguem fazê-lo muito bem. Vários monges tibetanos que estiveram em prisões chinesas, alguns por muito tempo. Os que conseguiram atravessar essa situação de forma menos traumática foram os que mais cultivavam uma atitude compassiva.

Todos eles passaram por tortura física, mas os mais compassivos sofreram muito menos com a tortura. Um monge que ficou 18 anos em uma prisão, em uma ocasião em que conversávamos, me falava sobre a vida na prisão. Ele me disse que em algumas ocasiões esteve em grande perigo. E eu perguntei: “que tipo de perigo”? Ele me respondeu: “perigo de perder a compaixão pelos chineses”. Isso mostra o quanto a paciência e a tolerância são importantes. Elas não são fraquezas, e sim um sinal de fortaleza interior.

Se você pratica a compaixão, eventualmente você pode até desenvolver algum grau de gratidão pelo seu inimigo, porque só através da prática da tolerância e paciência se manifesta a compaixão.

E para praticar a paciência e a tolerância você tem que enfrentar situações difíceis. Como praticar tolerância diante de um Buda? Para aprender tolerância e paciência temos que exerce-las. Portanto, o inimigo é o seu mestre, e o ajuda a desenvolver essas qualidades.

Algumas vezes temos a noção de que a prática da paciência e tolerância significa nos curvarmos diante dos outros, mas não é isso. Estou falando de não deixarmos a raiva nos dominar, não de submissão.

Como lidar com a raiva — Como lidar com a raiva? Há diferentes tipos e níveis de raiva. Algumas são mais razoáveis, como a raiva motivada pela compaixão — ela pode nos levar a ficar irados com uma pessoa, e há razão para isso. Há no entanto outros tipos de raiva que não têm uma base na realidade. Surgem na mente como uma projeção de um estado mental negativo.

Há também diferentes graus de intensidade. Algumas raivas são mais intensas, outras menos. Dependendo do grau e do tipo, se adotam medidas diferentes.

Quando a raiva é mais branda, ao percebermos que está para vir, devemos lembrar o caráter perturbador dela, e então seremos capazes de controlá-la. No caso de uma raiva muito violenta, é muito difícil pensar em medidas preventivas como no caso de uma raiva mais branda. Então o melhor é neutraliza-la pensando em outros assuntos, para ao menos não deixa-la tomar conta. E, à medida que nos tornamos mais habilidosos, podemos adotar diferentes tipos de contra-ação.

Um outro tipo de prática é destinado à raiva que nos é causada por desastres naturais, tragédias. Então temos que olhar o problema de diferentes ângulos.

No meu caso, em que perdi meu país, vejo que isso trouxe uma oportunidade de encontrar muita gente e repartir experiências. Qualquer evento tem dois aspectos. Algo que parece muito ruim quando se está com raiva, pode ter aspectos benéficos.

Outro método é tentar olhar os eventos à distância. Vistos dessa nova perspectiva, os problemas ficam menores. Se olhamos muito de perto, parecem incontroláveis. Devo pensar “esse não é somente o meu caso, mas há muitos outros”. Isso coloca as coisas em perspectiva.

Quando se tenta perceber as coisas de uma perspectiva mais ampla, se vê de forma diferente. Então, se abre um novo espaço para um novo sentimento, uma nova atitude. Isso revela a importância do estado mental.

Para se desenvolver a compaixão inamovível e sem preconceitos, é fundamental ter uma atitude correta frente aos inimigos. Assim, os budistas adotam a seguinte estratégia para desenvolver a compaixão sem preconceitos: Recuam.

Recue você também. Recue da proximidade dos sentimentos, da proximidade dos amigos e da distância dos inimigos. Adote a equanimidade. O apego aos amigos e o desagrado dos inimigos são um entrave.

Quando se olha com equanimidade, vemos que todos os seres querem a felicidade, querem se livrar do sofrimento. E quando percebemos isso, podemos chegar à compaixão

249176_10201376353235523_1289368717_n“Se parece exagero afirmar que a raiva é uma emoção inteiramente inútil, será que alguém jamais ouviu falar que ter raiva torna alguém feliz? Ninguém. Que médico prescreve a raiva como tratamento para alguma doença? Nenhum. A raiva só nos fere. Não há nada que a recomende. Pergunte a si mesmo: quando está com raiva, fica mais feliz? Sua mente se acalma e seu corpo relaxa? Ou é o contrário, seu corpo fica tenso e a mente agitada? Se a questão é manter nossa paz de espírito e, consequentemente, nossa felicidade, concluímos que, além de ser importante tomar consciência de nossas emoções e pensamentos negativos, precisamos cultivar o firme hábito de nos contermos ao reagir a eles.”

DALAI LAMA

NÃO JULGAR

Existe a seguinte passagem no Dhammapada, verso 50: “Que ninguém encontre defeitos nos outros. Que ninguém enxergue as omissões e as fraquezas alheias. Mas que cada um veja seus próprios atos, feitos ou não”. Esse é um aspecto central de nossa prática. Embora a prática possa nos tornar mais cônscios de nossa tendência a julgar os outros, na vida comum ainda agimos assim. Por sermos humanos, julgamo-nos uns aos outros. Alguém faz algo que nos parece grosseiro, indelicado ou insensato, e não podemos deixar de reparar nisso. Muitas vezes por dia vemos pessoas fazendo coisas que parecem, de alguma maneira, defeituosas.


Não é que todos ajam o tempo todo da maneira apropriada. As pessoas em geral apenas fazem aquilo que não queremos. Quando fazem o que fazem, no entanto, não é necessário que as julguemos. Não sou imune a isso; percebo-me julgando os outros também. Todos fazemos isso. Por isso recomendo uma prática para nos ajudar a nos flagrar no ato de julgar: sempre que pronunciarmos o nome da outra pessoa devemos observar o que acrescentamos a esse nome. O que dizemos ou pensamos acerca da pessoa? Que espécie de rótulo usamos? Inserimos a pessoa em alguma categoria? Ninguém deveria ser reduzido a um rótulo e, no entanto, em razão de nossas preferências e aversões, fazemo-lo assim mesmo.

Suspeito que se você entrar nessa prática descobrirá que não consegue passar cinco minutos sem julgar. É surpreendente. Queremos que o comportamento da outra pessoa seja apenas aquilo que queremos – e quando não é, nós a julgamos. Nossa vida em vigília é repleta desses julgamentos.

Poucos de nós agredimos fisicamente os outros. O meio mais comum de agredir é com a nossa boca. Como alguém disse: “Existem dois momentos em que se deve manter a boca fechada – nadando e quando você está zangado”. Quando julgamos que os outros estão errados, acabamos estando com a razão – e gostamos disso.

Como diz a passagem, deveríamos atentar para o nosso próprio comportamento em vez de julgar. “Mas que cada um veja seus próprios atos, feitos ou não.” Em vez de olhar à volta constantemente e julgar todo mundo, vejamos as nossas próprias condutas: o que fizemos e o que não fizemos. Não precisamos nos julgar, mas basta observar o ato. Se começamos a nos julgar, estipulamos um ideal, um certo modo que pensamos deva ser o nosso. Isso também não ajuda. Precisamos enxergar nossos verdadeiros pensamentos, tomar consciência do que é de fato verdadeiro para nós. Se fizermos isso, iremos notar que, sempre que julgamos, nosso corpo se tensiona. Por trás do julgamento está um pensamento autocentrado que produz tensão no corpo. Com o tempo, essa tensão torna-se-nos prejudicial e, indiretamente, prejudica os outros. A tensão não é a única capaz de causar danos; os julgamentos que expressamos a respeito dos outros (e de nós também) causa igualmente seus danos.

Toda vez que dissermos o nome da pessoa é útil notar se afirmamos mais do que um fato. Por exemplo, o julgamento “ela é desatenta” vai além dos fatos. Os fatos são que ela fez o que fez – por exemplo, disse que ia me telefonar e não telefonou. Dizer que ela é desatenta é meu julgamento pessoal negativo, acrescido ao fato. Iremos reparar que ficamos incessantemente fazendo essa espécie de julgamento. A prática significa tomar consciência dos momentos em que agimos assim. É importante não negligenciar grandes áreas de nossa vida e boa parte dela implica falar.

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Comentarios:

comments

  • Texto muito inspirador, vou aplicar as sugestões dadas. Preciso modificar a maneira como lido com os sentimentos negativos e utiliza-los a meu favor e a favor do próximo.

  • Rejane

    Gostei muito! Serviu muito bem para o meu comportamento com meus familiares que era bastante dicifo. Colocarei em prática o que foi dito neste texto.

  • fatima

    adorei aprendi evou pratica estou presciando muito me controlar as vezes eu sou fraca e deixo a raiva entrar em meu sentimento fico muito mal agora vai ser diferente obrigada.