Nenhuma distinção, nenhum conceito, nenhuma coleira. Dzongsar Khyentse Rinpoche

Nós, seres humanos, temos a tendência de pensar nos seres iluminados a partir do nosso próprio contexto. É mais fácil imaginar um ser iluminado hipotético, envolto na névoa a distância, do que imaginar um ser iluminado presente, vivo e respirando; isso porque, em nossa opinião, um ser desse tipo precisa ser fabuloso e apresentar traços e talentos transcendentes, além de todas as melhores características humanas.

Talvez alguém pense que possa alcançar a iluminação, se tentar com muito afinco. No entanto, partindo de uma imagem tão sublime, “tentar com afinco” provavelmente significa fazer um grande esforço e sacrificar todos os tipos de delícias por milhões de vidas. Essas idéias se apresentam quando nos damos ao trabalho de pensar sobre o assunto, mas na maior parte do tempo nem isso fazemos. É muito cansativo. Ao verificar como é difícil deixar os hábitos mundanos, a iluminação parece inatingível. Se não consigo sequer parar de fumar, como posso pensar em deixar os hábitos da paixão, da raiva e da negação da realidade? Muita gente pensa que é necessário nomear um salvador ou um guru para fazer a faxina por nós, porque não temos certeza de conseguir fazer isso sozinhos. Mas todo esse pessimismo é desnecessário se tivermos a informação correta sobre a verdade da interdependência para pôr em prática essa informação.

 

ESPERANÇA E PUREZA ORIGINAL

Assim como o conhecimento adquirido por meio da experiência transcende a dúvida, a iluminação também transcende a dúvida. Precisamos chegar a uma compreensão plena de que os obscurecimentos e confusões que obstruem a nossa iluminação não estão colados em nós para sempre. Por mais tenazes e permanentes que nossos obstáculos possam parecer, na realidade são fenômenos compostos e instáveis. Compreender a lógica de que os fenômenos compostos são dependentes e manipuláveis nos leva a enxergar sua natureza impermanente e à conclusão de que podem ser removidos por completo.

Nossa verdadeira natureza é semelhante a um copo de vinho, e os obscurecimentos e imperfeições são semelhantes à sujeira e às marcas de dedos que se acumulam sobre o copo. Quando compramos o copo, ele não vem da fábrica com marcas de dedos inerentes e verdadeiramente existentes. Quando a sujeira está acumulada, é comum pensar que o copo é sujo, não que está sujo. A natureza dele não é suja; é um copo com um pouco de sujeira e com marcas dos dedos de quem o segurou. Se o copo fosse sujo, a única opção seria jogá-lo fora, porque a sujeira e o copo apareceriam unidos em uma só coisa: um copo sujo. Mas não é o caso. A sujeira, as marcas de dedos e as outras substâncias se acumularam na superfície do copo devido a uma série de circunstâncias. Elas são temporárias. Podemos empregar muitos métodos diferentes pará lavar o copo e remover a sujeira. Ele pode ser lavado no rio, na pia ou na lava-louças, ou podemos pedir à empregada que lave o copo. Mas, seja qual for o método utilizado, a intenção é eliminar a sujeira, não o copo. Há uma enorme diferença entre lavar o copo e lavar a sujeira. Alguém poderia argumentar que essa distinção é meramente semântica, pois quando dizemos que estamos lavando a louça, queremos dizer que estamos removendo as impurezas da louça. Nesse caso, Sidarta concordaria, mas pensar que o copo ficou em algum sentido diferente do que era antes de ser lavado é uma concepção equivocada, porque o copo não contém, intrinsecamente, nenhuma marca de dedo. Quando a sujeira é removida, o copo não se transforma – continua sendo o mesmo copo que foi comprado na loja.

Quando imaginamos que somos intrinsecamente raivosos e ignorantes, duvidando da nossa capacidade de alcançar a iluminação, estamos pensando que a nossa verdadeira natureza é permanentemente impura e corrompida. No entanto, assim como as marcas de dedos sobre o copo de vinho, essas emoções não fazem parte da nossa verdadeira natureza; nós apenas acumulamos a poluição de todo tipo de situações desfavoráveis, tais como a companhia de pessoas não virtuosas ou a incapacidade de compreender as conseqüências das nossas ações. A ausência primordial de obscurecimentos, a natureza pura do nosso ser, é muitas vezes chamada de “natureza búdica”. Contudo, os obscurecimentos e as emoções que os obscurecimentos produzem existem há tanto tempo e se tornaram tão fortes que hoje são a nossa segunda natureza, seguindo-nos sempre como uma sombra. Não surpreende que alguém pense que não há esperança.

Para recuperar a esperança, aqueles que seguem o caminho do budismo podem começar pensando, Meu copo de vinho pode ser lavado, ou Meu ser pode ser purificado da negatividade. Essa forma um tanto ingênua de olhar a situação é semelhante a João pensar que a cobra precisa ser retirada. Entretanto, às vezes esse é um passo preparatório necessário, antes que possamos enxergar a natureza verdadeira e original de todas as coisas. Se não for possível perceber a pureza preexistente de todos os fenômenos, pelo menos acreditar que um estado puro possa ser alcançado nos ajuda a ir em frente. Assim como João quer se livrar da cobra, queremos nos livrar dos nossos obscurecimentos e temos coragem para tentar, porque sabemos que é possível. Basta aplicar os remédios que enfraquecem as causas e condições das nossas imperfeições ou que fortalecem os seus opostos – por exemplo, gerar amor e compaixão para vencer a raiva. Assim como o nosso entusiasmo em lavar a louça vem da certeza de que é possível conseguir um copo limpo, o entusiasmo para eliminar os obscurecimentos vem da certeza de que possuímos uma natureza búdica. Temos confiança para pôr a louça suja na lava-louças porque sabemos que os restos de comida podem ser removidos. Se nos pedissem para lavar um pedaço de carvão até ficar branco, não teríamos a mesma confiança e entusiasmo.

 

UM FACHO DE LUZ NA ESCURIDÃO DA TEMPESTADE

No entanto, como detectar a natureza búdica em meio a tanta ignorância, escuridão e confusão? O primeiro sinal de esperança para um marinheiro perdido no mar é avistar um facho de luz na escuridão da tempestade. Ao navegar em sua direção, ele chega à fonte de luz, ao farol. O amor e a compaixão são como a luz que emana da natureza búdica. No começo, a natureza búdica é um mero conceito muito além da nossa visão, mas se gerarmos amor e compaixão um dia conseguiremos caminhar em sua direção. Pode ser difícil enxergar a natureza búdica daqueles que estão perdidos na escuridão da ganância, do ódio e da ignorância. A natureza búdica dessas pessoas é tão distante que parece inexistir. Entretanto, até as pessoas mais sombrias e violentas têm lampejos de amor e compaixão, ainda que breves e tênues. Se esses raros vislumbres forem nutridos e se for investida energia para seguir na direção da luz, a natureza búdica dessas pessoas pode ser revelada.

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Além do amor e da compaixão, existe um sem-número de caminhos disponíveis que nos levam mais perto da compreensão da natureza búdica. Mesmo se entendermos apenas intelectualmente a bondade fundamental do ser humano e de todos os demais seres, esse entendimento já nos aproxima da natureza búdica. É como se tivéssemos esquecido onde guardamos um anel de diamante precioso, mas pelo menos sabemos que está dentro de um porta-jóias, e não perdido na vasta encosta de uma montanha.

Embora empreguemos palavras como alcançar, desejar e rezar em referência à iluminação, em última análise não conquistamos a iluminação a partir de uma fonte externa. Uma forma de expressão mais correta seria descobrir a iluminação que sempre existiu. A iluminação faz parte da nossa verdadeira natureza. A nossa verdadeira natureza é como uma estátua de ouro que ainda está dentro do molde, e o molde é como os obscurecimentos e a ignorância. Assim como o molde não faz parte da estátua, a ignorância e as emoções não constituem uma parte intrínseca da nossa natureza, e por isso podemos falar em pureza original. Quando o molde é quebrado, surge a estátua. Quando os obscurecimentos são removidos, a nossa verdadeira natureza búdica é revelada. É importante, contudo, compreender que a natureza búdica não é uma alma ou essência divina verdadeiramente existente.

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Quando Sidarta se iluminou, passou a ser conhecido como Buda. Buda não é o nome de uma pessoa; é a designação de um estado mental. O termo buda denota uma qualidade que tem dois aspectos: “realizado” e “desperto”. Em outras palavras, aquele que purificou os obscurecimentos e aquele que alcançou o conhecimento. Ao atingir o estado de realização debaixo da árvore bodhi, Buda despertou da visão dualista e do emaranhado de conceitos que a acompanha, como sujeito e objeto. Ele entendeu que nenhuma coisa composta pode existir de modo permanente. Ele entendeu que nenhuma emoção leva à felicidade, se provier do apego ao eu. Ele entendeu que não há um eu verdadeiramente existente, nem fenômenos verdadeiramente existentes que possam ser percebidos. E ele entendeu que mesmo a iluminação está além dos conceitos. Esse entendimento é o que chamamos a “sabedoria de Buda”, uma conscientização da verdade em sua totalidade.

 

NENHUMA DISTINÇÃO, NENHUM CONCEITO, NENHUMA COLEIRA

Junto com os conceitos convencionais de tempo e espaço, Buda pôs de lado todas as distinções dualistas e as emoções sutis que as acompanham. Ele não preferia o elogio à crítica, o ganho à perda, a felicidade à infelicidade, a fama à obscuridade. Ele não se deixava levar pelo otimismo nem pelo pessimismo, pois um não era mais importante nem justificava maior investimento de energia do que o outro. Imagine não mais ser presa de pequenos elogios e críticas, ouvindo-os como Buda fazia – como meros sons, como um eco. Ou ouvi-los como faríamos no leito de morte. Poderíamos nos comprazer ao ouvir os parentes e amigos queridos elogiando a nossa beleza e qualidades maravilhosas, mas, ao mesmo tempo, ficaríamos desapegados, sem nos deixar afetar. Não mais nos agarraríamos às palavras. Imagine estar acima de subornos e outras formas de persuasão, porque todas as tentações do mundo nos parecem desinteressantes, como um tigre diante de um punhado de capim. Se não pudéssemos ser comprados por elogios nem derrubados por críticas, teríamos uma força fantástica. Nossa liberdade seria extraordinária; não haveria mais esperança e medo, suor e sangue, nem tantas outras reações emocionais desnecessárias. Finalmente, poderíamos praticar o “Estou pouco me lixando”. Sem ter que buscar ou evitar a aceitação ou a rejeição dos outros, poderíamos apreciar o que temos no momento presente. Passamos a maior parte do tempo tentando fazer com que as coisas boas durem, ou pensando em como substituí-las por outras ainda melhores no futuro, ou mergulhados no passado, lembrando de tempos mais alegre. Ironicamente, nunca apreciamos de verdade as experiências que hoje nos trazem nostalgia, porque na ocasião estávamos muito ocupados alimentando esperanças e medos.

Se somos como crianças na praia, ocupadas em construir castelos de areia, os seres sublimes são como os adultos que observam as crianças, sentados sob o guarda-sol. As crianças se perdem em suas criações, brigando por conchas e baldinhos, com muito medo de que as ondas avancem. Elas vivem todo tipo de emoções. Os adultos, porém, ficam por perto, bebericando uma batida de coco, observando, não julgando, sem muito orgulho quando um castelo de areia é muito bem construído, nem muita raiva ou tristeza quando alguém pisa sem querer numa torre. Eles não ficam presos no drama da mesma maneira que as crianças. Que maior iluminação alguém pode querer?

A analogia mais próxima à iluminação no mundo secular é a “liberdade”. Sem dúvida, o conceito de liberdade é uma força motriz na nossa vida pessoal e na sociedade. Sonhamos com um tempo e um lugar em que vamos poder fazer o que quisermos. Em nossos discursos e constituições, entoamos “liberdade” e “os direitos humanos” como mantras; no entanto, lá no fundo, não queremos essas coisas de verdade. Se nos fosse dada liberdade total, provavelmente não saberíamos o que fazer. Não temos a coragem ou a capacidade de tirar proveito de uma liberdade verdadeira porque não estamos livres de orgulho, ganância, esperança e medo. Se todas as pessoas de repente sumissem da face da Terra, com exceção de um homem, poderíamos imaginar que ele teria liberdade plena – poderia gritar, andar sem roupa e violar a lei – embora não houvesse mais lei nem testemunhas. Mais cedo ou mais tarde, porém, ele se sentiria entediado e solitário, e desejaria companhia. A própria ideia de relacionamento implica em abrir mão de uma parcela da nossa liberdade em favor do outro. Se o desejo do homem solitário fosse realizado e ele ganhasse uma companheira, é provável que ela tivesse suas próprias vontades, podendo muito bem comprometer a liberdade dele, intencionalmente ou não. De quem seria a culpa? Do homem solitário, pois foi o seu tédio que provocou a sua queda. Não fossem o tédio e a solidão, ele continuaria livre.

Fazemos um belo serviço quando se trata de restringir as nossas próprias liberdades. Mesmo não sendo proibido, não vamos à feira com um traje de gala, nem a uma entrevista de emprego com um peixe morto pendurado no pescoço em no lugar da gravata, porque queremos impressionar as pessoas e conquistar amigos. Podemos deixar de explorar culturas alternativas ou de outros povos, por mais sabedoria que elas tenham a oferecer, porque não queremos ser tachados de hippies.

Vivemos por trás das grades da responsabilidade e da conformidade. Fazemos um estardalhaço em torno de direitos humanos, liberdade de expressão, privacidade e direito de portar armas, mas não queremos morar ao lado de um terrorista. Quando se trata dos outros, queremos impor algumas regras. Se os outros forem totalmente livres, talvez não possamos ter tudo o que queremos. A liberdade deles pode limitar a nossa liberdade. Quando trens são explodidos em Madri e edifícios são reduzidos a escombros em Nova York, culpamos a CIA por deixar os terroristas à solta. Na nossa opinião, é função do governo nos proteger das pessoas violentas. Mas as pessoas violentas e os terroristas se consideram defensores da liberdade. Enquanto isso, queremos ser politicamente corretos, e guardiães da justiça, de modo que se o nosso vizinho de feições étnicas for levado pela polícia federal, é possível que venhamos a protestar. É especialmente fácil ser politicamente corretos quando o problema ocorre bem longe de nós. De um jeito ou de outro, corremos o risco de ser vítimas da nossa própria atitude politicamente correta.

 

RENÚNCIA: O CÉU É O LIMITE

Se encaramos com seriedade o propósito de alcançar a iluminação, precisamos ter força para renunciar a coisas que são importantes para nós e de muita coragem para trilhar um caminho solitário. Aqueles que não correm atrás de elogios e ganhos, que não se esquivam de críticas e perdas, podem ser estigmatizados como anormais ou mesmo loucos. Quando observados a partir de um ponto de vista convencional, os seres iluminados podem parecer loucos porque não negociam, não são seduzidos nem influenciados por ganhos materiais, não ficam entediados, não procuram emoções baratas, não têm aparências a manter, não se enquadram nas regras de etiqueta, nunca recorrem à hipocrisia para ganho pessoal, nunca fazem nada para impressionar os outros e não mostram seus talentos e poderes apenas para se exibir. No entanto, se for para benefício dos outros, esses santos são capazes de fazer qualquer coisa, desde ter modos perfeitos à mesa, até ser o diretor-presidente de uma grande empresa. Nos 2.500 anos de história do budismo, provavelmente houve inúmeros seres iluminados que jamais foram identificados, ou que foram proscritos por serem insanos. Bem poucos foram admirados por possuírem o que chamamos “sabedoria louca”. Mas, pensando bem, somos nós os verdadeiros insanos, babando por elogios que são como um eco, remoendo críticas e correndo atrás da felicidade.

Nem é preciso falar em ir além do tempo e do espaço; mesmo ir além de elogios e críticas parece fora do nosso alcance. Mas, quando começamos a entender, não só intelectual como emocionalmente, que todas as coisas compostas são impermanentes, o apego diminui. A convicção de que nossos pensamentos e posses são valiosos, importantes e permanentes começa a arrefecer. Se fôssemos informados de que só nos restam dois dias de vida, nosso comportamento seria diferente. Não iríamos nos preocupar em guardar os sapatos enfileirados, passar a ferro as nossas roupas íntimas, ou acrescentar mais um perfume caro a uma já enorme coleção. Poderíamos continuar indo às compras, mas com uma nova atitude. Saber, ainda que só um pouco, que alguns dos nossos conceitos, sentimentos e objetos mais familiares existem apenas como um sonho, refina o nosso senso de humor; reconhecer o lado cômico da nossa situação poupa muito sofrimento. Continuamos a ter emoções, mas elas não nos enganam nem nos pregam peças. Podemos ainda nos apaixonar, mas sem medo de sermos rejeitados. Usamos nossos melhores perfumes e cremes faciais, em vez de guardá-los para uma ocasião especial. Assim, cada dia passa a ser especial.

As qualidades de Buda são inexprimíveis. São exatamente iguais ao céu, que não tem fim no espaço. Nossa linguagem e poder de análise podem ir apenas até onde vai o nosso conceito de universo. Em algum ponto, um pássaro que voe mais e mais alto para encontrar o fim do céu vai chegar ao seu limite, e terá que retornar à Terra.

A melhor metáfora para as nossas experiências neste mundo é a de um sonho épico com uma série de histórias complexas que se entrelaçam, com altos e baixos, dramas e emoções fortes. Se um episódio do sonho vem carregado de feras e demônios, queremos fugir. Quando abrimos os olhos e vemos o ventilador girando no teto, suspiramos aliviados. Para efeito de comunicação, dizemos: “Sonhei que o diabo estava me perseguindo”, e sentimos alivio por termos escapado das garras do diabo. Mas não é o diabo que foi embora. O diabo nunca entrou no quarto durante a noite e, enquanto você estava tendo aquela experiência medonha com ele, ele também não estava lá. Quando uma pessoa desperta para a iluminação, ela nunca foi um ser senciente, nunca batalhou. A partir de então, ela não precisa se pôr em guarda para impedir que o diabo volte. Quando ela se ilumina, não pode recordar o tempo em que era um ser ignorante. Não é mais preciso meditar. Não há nada a lembrar, porque nada jamais foi esquecido.

Como Buda disse no Sutra Prajnaparamita, todos os fenômenos são como um sonho e uma ilusão; mesmo a iluminação é como um sonho e uma ilusão. E, se houver algo maior ou mais grandioso do que a iluminação, isso também será como um sonho e uma ilusão. Seu discípulo, o grande Nagarjuna, escreveu que o Senhor Buda não afirmou que após abandonar o samsara existe o nirvana. A não existência do samsara é o nirvana. Uma faca é afiada num processo em que duas coisas se exaurem: a pedra de amolar e o metal. Do mesmo modo, a iluminação é resultado da exaustão dos obscurecimentos e da exaustão dos antídotos dos obscurecimentos. Ao final, o caminho da iluminação terá de ser abandonado. Se você ainda se define como budista, ainda não é um buda.

Texto extraído do livro “O que faz você ser budista?“, de Dzongsar Jamyang KhyentseAdquira o livro aqui. 

 DJK

Breve biografia de Dzongsar Khyentse Rinpoche

Jamyang Khyentse Rinpoche, ou Thubten Chökyi Gyamtso, nasceu em 1961 no Butão, sendo reconhecido por S.S. Sakya Trizin como a emanação da mente de um dos maiores mestres Dzogchen de seu tempo, Jamyang Khyentse Chökyi Lodro (1893-1959).

A linhagem Khyentse, começando com o grande Jamyang Khyentse Wangpo, sempre se caracterizou pela visão não-sectarista. Refletindo essa tradição, Dzongsar Khyentse Rinpoche estudou com professores de todas as quatro escolas do budismo tibetano. Recebeu iniciações e ensinamentos de muitos dos maiores mestres contemporâneos, incluindo S.S. Dalai Lama, S.S. o 16º Karmapa, S.S. Sakya Trizin e seus próprios avós: S.S. Dudjom Rinpoche e Sönam Zangpo. Seu mestre principal foi Dilgo Khyentse Rinpoche. Rinpoche ainda estudou com mais de 25 grandes lamas de todas as quatro escolas do budismo tibetano.

Enquanto ainda era adolescente, foi responsável por publicar muitos textos raros que estavam ameaçados de serem perdidos completamente e, nos anos 80, começou a restauração do monastério Dzongsar, no Tibete.

Dzongsar Rinpoche é famoso pela liberdade descontraída com que se move entre culturas e povos e por sua dedicação incansável em trazer a filosofia e o caminho da iluminação para qualquer pessoa com um coração aberto.

Além de supervisionar sua sede tradicional no monastério Dzongsar e seus centros de retiro no Tibete Oriental, fundou diversas faculdades e centros de retiro na Índia (em Bir e Chauntra) e no Butão. Conforme o desejo de seus mestres, Rinpoche tem viajado e ensinado pelo mundo todo, estabelecendo centros de darma na Austrália, Europa, América do Norte e Ásia.

Em 1989, S.E. Dzongsar Khyentse Rinpoche fundou a Siddharta’s Intent, uma associação de centros budistas de alcance global, cuja intenção principal é preservar os ensinamentos budistas assim como aprofundar a compreensão e consciência sobre os diversos aspectos dos ensinamentos budistas em meio a diferentes culturas e tradições.

Em 2001, Rinpoche também fundou a Khyentse Foundation, uma organização sem fins lucrativos para funcionar como “um sistema de patrocínio para instituições e indivíduos engajados na prática e estudo da sabedoria e compaixão do Buda”.

Rinpoche também fundou a Lotus Outreach, uma organização sem fins lucrativos dedicada a garantir a educação, saúde e segurança de mulheres e crianças vulneráveis nos países em desenvolvimento. Originalmente fundada como suporte para a educação de refugiados, a Lotus Outreach agora também ajuda a reabilitar sobreviventes do tráfico humano e manter estudantes em risco na escola.

Dzongsar Rinpoche também dirige o Deer Park, centros de arte e contemplação no Butão e Índia, o World Peace Vase Program — uma grande iniciativa de alcance global de S.S. Dilgo Khyentse Rinpoche — e a Siddharta School, na Austrália.

Em 2008, Rinpoche fundou a Manjugosha Edition, baseada em Berlim (Alemanha), para publicar textos budistas raros e preciosos sob encomenda. Alunos seus no Rio de Janeiro criaram o grupo de prática Buda de Ipanema. Dzongsar Rinpoche visitou o Brasil algumas vezes, tendo realizado as consagrações rituais do Palácio da Terra Pura de Padmasambhava, no Khadro Ling (Três Coroas, RS), e do templo Odsal Ling (Cotia, SP), além de ensinamentos e palestras.

Dzongsar Khyentse Rinpoche também é cineasta; seus dois filmes principais são “A Copa” (1999) e “Traveller e Magicians” (2003). Ele estudou com o cineasta italiano Bernardo Bertolucci, após atuar como consultor (e breve coadjuvante) de seu filme “Pequeno Buda” (1993). Também é autor dos livros “O que te faz ser budista” (2007) e “Not For Happiness” (2012).

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