Apenas sentando | Chögyam Trungpa Rinpoche

“Muitas vezes surgem perguntas do tipo “Por que diabos eu estou fazendo isso, me comportando como um idiota, apenas sentando?”. E as pessoas também experimentam um monte de ressentimento. Elas pensam: “Me mandaram sentar assim. Alguém está tirando sarro de mim, aproveitando-se da minha ingenuidade. Alguém me fez sentar assim, apenas sentar. Não estou sequer autorizado a sair. Eu tenho apenas que sentar na minha almofada de meditação.” Mas a instrução para fazer isso é, na verdade, uma mensagem extremamente importante, poderosa. Se aprendermos a sentar corretamente, completamente e totalmente, essa é a melhor coisa que poderíamos fazer neste momento. Se olharmos para trás, na história da nossa vida, desde que nascemos, desde a primeira vez que fomos para a escola, nunca nos sentamos. Nós nunca nos sentamos. Talvez, às vezes, podemos ter saído pra curtir e experimentamos o tédio absoluto e sentimos pena de nós mesmos. As vezes em que nos sentimos entediados e preocupados, podemos ter saído pra curtir na rua ou mesmo em nossas salas de estar, assistindo televisão, mastigando o nosso chiclete e assim por diante. Mas nunca sentamos. Nós nunca sentamos como uma rocha. Nós nunca fizemos isso. Que tal? Aqui, esta é a primeira experiência de sentar na nossa vida — não de passar um tempo ou curtir — mas de realmente sentar no chão, em uma almofada de meditação. Só isso, pra começar, sem nem mencionar técnicas de como sentar. Antes de discutir técnicas, podemos destacar o mérito — punya, em sânscrito — só o mérito, a sanidade e o despertar que você vai gerar disso, de simplesmente estar disposto a sentar-se como um pedaço de pedra. É fantasticamente poderoso. Isso é maior que a bomba atômica. É extraordinariamente poderoso decidirmos apenas sentar, ao invés de apenas passar tempo ou sair pra curtir, mas apenas sentar-se em uma almofada de meditação. Uma atitude tão corajosa, um compromisso tão maravilhoso é magnífico. É algo muito são, extraordinariamente são.”

Quando sentamos sempre temos um propósito. Se estamos sentados em um carro, estamos pensando: “Quanto tempo vai levar para eu chegar ao meu destino, para que eu possa começar a me apressar?” Contamos a quilometragem, veja a velocidade de nossos carros, olhe o velocímetro. Nós nos sentamos com um propósito. É um ponto muito interessante que ninguém tenha experimentado que podemos realmente sentar sobre uma almofada sem qualquer propósito, absolutamente nenhum. É escandaloso. Ninguém nunca faria isso. Não somos capazes nem de pensar nisso. É impensável. É terrível — estaríamos desperdiçando o nosso tempo. Agora, essa seria a questão: “perder o nosso tempo”. Talvez essa seja uma boa, perder o nosso tempo. Dê um descanso ao tempo. Deixe que ele seja desperdiçado. Crie tempo virgem, tempo não contaminado, tempo que não foi agredido por agressão, paixão e pressa. Vamos criar tempo puro. Sente-se e crie tempo puro. Isso é uma coisa muito importante. Pode parecer loucura para você, pouco prático, mas é muito importante pensar nesses termos. A prática sentada é uma ideia revolucionária para ocidentais, mas não tanto para os budistas. Buda fez isso. Buda fez isso dois mil e quinhentos anos atrás. Ele se sentou e perdeu seu tempo. E ele transmitiu o conhecimento para nós de que isso é a melhor coisa que podemos fazer por nós mesmos — desperdiçar nosso tempo sentando em prática. A própria ideia de agressão e paixão poderia ser domada pela prática sentada. Apenas sentar como um pedaço de rocha é algo muito importante.”

— Chögyam Trungpa Rinpoche, em “The Path Is The Goal”

Comentarios:

comments