Dalai Lama – “Sou um apoiador da globalização”

O Budismo, a economia e a gestão estão todos interconectados. O Dalai Lama acredita que a crise financeira é uma crise moral. Ele diz que é um monge Marxista, mas, ainda assim, o Dalai Lama não vê alternativa a uma economia de livre mercado. Uma contradição? Jörg Eigendorf conversou com o líder espiritual tibetano em seu exílio indiano. Entrevista feita em 2009 na época da crise financeira. 

 

Chegar até o Dalai Lama implica uma jornada longa e traiçoeira. O líder religioso vive em exílio ao pé dos Himalaias, a duas horas de distância de Nova Deli para o norte, em avião. Aqui, em Dharamshala, sua residência se situa em uma colina idílica, próxima a um templo budista. Aqueles que querem chegar até ele devem passar por estritos controles de segurança realizados tanto pelos guardas de segurança indianos quanto tibetanos. Tudo é revistado.

Os temores por Sua Santidade são imensos. Por um lado, a luta não violenta por mais de 50 anos pela autonomia do Estado do Tibete fez do vencedor do Prêmio Nobel da Paz um superstar internacional. Por outro lado, os chineses o veem como um arqui-inimigo desde 1959.

Porém, por anos, o monge mudou seu enfoque da questão do Tibete apenas e da luta contra a violência para se envolver em questões da economia global e do desafio de como a riqueza pode ser distribuída de forma mais justa. Pouco antes de sua ida para a Alemanha, ao final de julho, o Dalai Lama alertou não apenas contra a cobiça, mas também contra ter fé demais no Estado.

WELT ONLINE: Sua Santidade, para os tibetanos o senhor é um rei divino e tem muitos seguidores no mundo ocidental que o têm como ídolo. O senhor tem alguma fraqueza?

Dalai Lama: (rindo) Sim, sou preguiçoso. Claro que me levanto todas as manhãs às 3h30min e faço alguns exercícios, medito, tomo café da manhã e medito novamente. Isso continua por umas quatro ou cinco horas. No aspecto espiritual, não sou preguiçoso. Mas quando me sento em um avião, sempre vejo as pessoas lendo, escrevendo ou trabalhando em seus computadores, preparando apresentações. Nunca faço isso – nada de temas nem de preparações. Esses são os sinais da minha preguiça.

WELT ONLINE: Isso incomoda o senhor?

Dalai Lama: Não, porque quando eu me preparo para algo de forma muito intensa, sempre sinto como se fosse falso demais. Sinto-me muito melhor quando sou espontâneo, porque vem do coração.

WELT ONLINE: O senhor pode imaginar quanto tempo eu passei preparando esta entrevista?

Dalai Lama: (ri novamente) Você é alemão, então tudo deve ser muito preciso. Além disso, suas perguntas precisam ser interessantes. Se eu tivesse que ser a pessoa que faz as perguntas, eu me prepararia também. Mas eu apenas preciso responder as suas perguntas, e se eu não souber a resposta, simplesmente direi a você.

WELT ONLINE: Certo, então como o resolveremos a crise financeira no curto prazo?

Dalai Lama: Viu só? Essa é uma dessas perguntas: eu não sei. Os políticos precisam decidir sobre isso. Eu não sou especialista em como resolver uma grave crise. O mesmo ocorre com a violência e o terrorismo. No curto prazo, os governantes terão que agir para prevenir as ameaças aos cidadãos, que é a coisa certa a fazer. Mas com todas as ações de curto prazo que estamos adotando, não podemos esquecer da causa central do problema.

WELT ONLINE: Em sua opinião, qual seria a causa central da crise financeira?

Dalai Lama: Ganância e “jogatinas”. Muitas pessoas e empresas têm apenas uma meta: dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. Tudo bem com a ambição quando você permite que outros lucrem com isso, mas ganância para nós mesmos é algo ruim, faz com que você adoeça. A ambição egoísta de sempre querer ganhar mais dinheiro prejudica tanto a empresa quando o próprio indivíduo. Essa é a maior fraqueza de muitos gerentes, e a crise financeira provou isso.

WELT ONLINE: Então tudo bem uma pessoa ganhar muito desde que ela compartilhe?

Dalai Lama: A riqueza não é necessariamente algo ruim quando foi ganhada de uma forma honesta e quando outros indivíduos ou o ambiente não sofreram por isso. Como budistas, reconhecemos que a prosperidade é um pré-requisito básico para uma vida feliz. Mas um bilionário também tem apenas dez dedos. Ele pode colocar três ou quatro anéis em cada dedo, mas isso ficaria estranho. A satisfação que muitos milionários que não compartilham sua riqueza têm em suas mentes é fictícia, e não real. As pessoas ricas devem ajudar a reduzir a pobreza.

WELT ONLINE: Alguns gerentes ganham 10, 20 ou mesmo 30 milhões de euros por ano. O senhor realmente não vê problema nisso?

Dalai Lama: Assim como na indústria da música, ou dos esportes, existem exceções. Eles podem ganhar quanto quiserem, desde que seja algo transparente e que se possa rastrear por que eles ganham tanto dinheiro. Infelizmente são poucas as pessoas assim. Porém, é inaceitável que um diretor executivo continue a aumentar sua riqueza enquanto a empresa está indo para a falência, os acionistas perdem suas economias e os funcionários perdem seus empregos ou não ganham o suficiente para ter uma vida decente.

WELT ONLINE: Suponhamos que um diretor executivo descubra que pode desenvolver um software na Índia por um décimo do preço que custaria na Alemanha. Para isso, ele deve cortar mil empregos na Alemanha e criar novos empregos na Índia. Os donos da empresa estão pressionando para que ele faça isso. O que o diretor deve fazer?

Dalai Lama: O diretor precisa analisar a situação de todos os ângulos possíveis: os acionistas, os funcionários, os clientes e a sociedade. Sim, até mesmo a sociedade global. Um bom diretor precisa ter uma imagem clara do problema. Isso parece ser evidente, mas não acontece com tanta frequência.  A maioria das vezes só se busca maximizar lucros.

WELT ONLINE: As empresas não podem sobreviver sem lucros.

Dalai Lama: Sim, mas as empresas são organismos vivos complexos, e não máquinas de lucro. O lucro, portanto, não pode ser o objetivo de uma empresa, e sim o resultado de um bom trabalho. Assim como uma pessoa não pode sobreviver por muito tempo sem alimento e água, uma empresa não pode sobreviver sem lucros. Não que eu jamais reduziria o propósito de um ser humano a isso, como se comer e beber fossem os únicos pré-requisitos de uma vida significativa.

WELT ONLINE: Como o senhor se sente sobre empresas ocidentais investindo em países de baixo custo? Isso é exploração, ou ajuda a economia nacional desses países a reduzir a lacuna com os países industrializados?

Dalai Lama: Depende do incentivo do investidor. Eu não creio que muitas das empresas que investem em negócios indianos ou chineses estejam realmente interessados no bem-estar das pessoas da Índia ou da China. Com frequência, o interesse se encontra em explorar mão-de-obra barata, o que eu desaprovo. Porém, se uma empresa tiver responsabilidade moral de melhorar a qualidade de vida e ajudar a China como um todo, então tudo bem aproveitar o trabalho mais barato. Os negócios globais podem ajudar a China a se tornar mais democrática, ajudá-la a alcançar um sistema jurídico independente e garantir liberdade de imprensa.

WELT ONLINE: O senhor não vai fazer muitos amigos entre aqueles que são contrários à globalização com seu argumento.

Dalai Lama: Essencialmente eu sou um apoiador da globalização. No passado, as sociedades e países podiam se isolar do resto do mundo, mas hoje isso se tornou impossível. Quando buscamos organizações que tenham a capacidade e habilidade de melhorar nosso mundo, as empresas globais estão no topo da lista. Particularmente as corporações globais integradas se encontram em uma posição ideal para ajudar que países em desenvolvimento se aproximem de economias nacionais líderes.

WELT ONLINE: O senhor não simpatiza com anti-globalistas?

Dalai Lama: Sim, quando eles recordam aos líderes e às empresas que não se trata apenas de extrair lucros. Ao mesmo tempo, a crescente oposição à globalização depende de nossa relutância de aceitar o princípio de que tudo é perecível: ou seja, o fato de que tudo está sujeito a permanentes mudanças.  Para os budistas, esse é um dos preceitos básicos de sabedoria que devemos aceitar.

WELT ONLINE: Essas atitudes liberais não parecem encaixar em alguém que alguma vez se proclamou um monge marxista. O senhor ainda se vê assim?

Dalai Lama: Sim, ainda acredito ser um monge marxista. Não vejo aqui uma contradição. Na teoria marxista, o foco se encontra na alocação justa das riquezas. De uma perspectiva moral, essa é uma reivindicação correta. O capitalismo, por outro lado, valoriza o acúmulo de riquezas: a alocação delas não é relevante aqui inicialmente. No pior cenário, o rico continuará ficando cada vez mais rico enquanto o pobre continua cada vez mais pobre.

WELT ONLINE: Por que, então, o senhor é tão contrário ao comunismo e ao socialismo?

Dalai Lama: Comunismo? O que é comunismo? A China é um país comunista? (Ele ri alto.) Estou confuso. Os comunistas chineses são comunistas sem uma ideologia comunista. Mas se você se refere a socialismo, como existiu inicialmente no Bloco de Leste e agora na Coréia do Norte e em Cuba, acredito que vai contra a natureza humana; ele destrói a criatividade. Não é suficiente que as pessoas tenham o suficiente para comer, roupas e um teto sobre suas cabeças. Precisamos nos atualizar. Buda incentivou os empreendedores a que se tornassem bem-sucedidos através da confiabilidade e das capacidades de vendas. Aqueles que são bem-sucedidos podem ajudar os outros.

WELT ONLINE: Entretanto, o senhor foi durante muito tempo um admirador de Mao Zedong. Como pode se enganar tanto?

Dalai Lama: Ainda estou convencido de que Mao Zedong era um marxista, que queria ajudar os trabalhadores e camponeses, nos seus anos iniciais, até meados de 1950. Nessa época, eu passei seis meses em Beijing e outros quatro meses em muitas outras partes da China. Os líderes do partido me pareceram realmente dedicados a sua causa.

WELT ONLINE: O que impressionou o senhor em Mao?

Dalai Lama: Ele parecia um camponês – suas roupas eram velhas e arruinadas. E quando ele falava, falava muito lentamente, então cada palavra tinha importância. Ele nunca fazia rodeios, nem dizia amenidades; ele sempre ia direto ao ponto. Todos os membros do seu partido que eu encontrei naquela época eram assim, o que me impressionou.

WELT ONLINE: E como Mao falhou, em sua opinião?

Dalai Lama: Mao uma vez disse que o partido comunista tinha que suportar as críticas, e que a autocrítica era muito importante. Sem crítica, qualquer sistema de poder é como um peixe sem água. Porém, em 1957, de repente todos os oficiais do partido que ousaram criticar foram eliminados. Esse foi o fim do Maoísmo. O sistema falhou por causa de sua própria arrogância e falta de autodisciplina. A abolição da propriedade privada levou a que muitos pertences terminassem nas mãos de um estado que recaiu em uma elite partidária que exerceu um reinado autoritário, muito parecido com os aristocratas do passado.

WELT ONLINE: Que papel o estado desempenha na economia, em sua opinião?

Dalai Lama: Essa é uma pergunta muito difícil. Não creio que a igualdade pode ser estabelecida em um nível nacional. As nações podem causar muitos danos. É por isso que sou contra esperar demais dos governos quando se trata da redistribuição ou regulação dos mercados financeiros. As pessoas sempre encontram formas de contornar as regras e as leis, mesmo se forem as melhores regras e leis. Ou você pensa que foi a falta de regulações que levou a esta crise financeira? As regras nos Estados Unidos eram boas; mas ação responsável demanda mais do que obediência às leis.

WELT ONLINE: Em sua opinião, o livre mercado não está funcionando bem, e o senhor também não acredita em regulação. Então de que é que precisamos?

Dalai Lama: Eu chamo de uma “economia de livre mercado responsável”. No fim, se trata de cada indivíduo em particular; depende do senso de responsabilidade moral, autodisciplina e valores de cada indivíduo. Essa crise financeira não é puramente uma crise da economia de mercado, é muito mais uma crise de valores.

WELT ONLINE: Certo, então a primeira coisa que devemos fazer é enviar todos os líderes de governo e diretores executivos de grandes empresas para os conventos budistas, para que possam aprender autodisciplina e conquistar valores morais.

Dalai Lama: (risos) Seminários de três semanas em nossos mosteiros não vão conseguir muita coisa. Seria como colocar um pedaço de gelo em uma rocha: um pouquinho depois, a rocha estaria molhada, mas nada além disso. A rocha ainda estaria lá. Não, é irreal esperar uma mudança sistemática rápida na economia global. As mudanças precisam acontecer dentro de cada pessoa individualmente e dentro das empresas. Isso depende dos esforços que fazemos na educação das pessoas; trata-se de começar no Jardim de Infância, e não algumas poucas semanas de debates.

WELT ONLINE: Então o que o senhor está dizendo é que o foco nas escolas não pode ser apenas em matemática, história e idiomas, mas que moralidade, ética e religião precisam ser ensinadas em um escopo muito maior.

Dalai Lama: História, matemática, idiomas e economia, essas são matérias para o cérebro.  Mas responsabilidade, responsabilidades morais, responsabilidades para com a sociedade, todas essas coisas vêm do coração. Isso, combinado com o poder do cérebro, é o que os governos e grandes empresas precisam. Darei a você um exemplo: nós, tibetanos, acreditamos que nosso problema nacional com a China só pode ser resolvido de forma não violenta. É isso que nós ensinamos desde o Jardim de Infância ao longo de toda a educação de um indivíduo. Quando um tibetano é confrontado com um conflito, sua reação deve ser imediatamente: “Como posso resolver isto dialogando?” É importante para nós que os jovens em nossas escolas compreendam que a violência é o caminho equivocado, a violência não pode resolver problemas. Essa atitude se tornou parte de muitas vidas tibetanas através da educação e do treinamento. O mesmo precisa acontecer com relação à economia e à justiça.

WELT ONLINE: Quantas décadas ou séculos levará até que estejamos realmente prontos para uma “economia de livre mercado responsável”?

Dalai Lama: Esta crise financeira e econômica ajudará com que isso aconteça mais rápido, porque as pessoas que só pensam em dinheiro, até sonham com ele, são as mais afetadas por ela. A crise é terrível para muitas pessoas, mas também mostra que o valor do dinheiro é limitado e que a insegurança é imensa. Valores interiores como amizade, confiança, honestidade e compaixão são muito mais confiáveis do que o dinheiro: eles sempre trazem felicidade e força.

WELT ONLINE: Mas poucas pessoas são promovidas porque valoram a amizade, a confiança e a compaixão. Será que sua abordagem não é um pouco idealista?

Dalai Lama: O que você está dizendo é uma das maiores contradições. Aqueles que se impõem muitas vezes tem pouquíssima moral, e aqueles que têm um bom senso de moral muitas vezes não sabem como se impor. Esse problema, aliás, é muito maior no socialismo que na economia. Muitas vezes os incompetentes foram líderes, governaram e comprimiram os competentes.  Já vimos o que acontece então. Uma empresa que se comporta da mesma forma fracassará, porque desperdiça muito potencial e nunca desenvolverá seus próprios valores.

WELT ONLINE: Todo bom CEO tem pré-requisitos para um sucessor adequado, porém encontrar seu sucessor é muito mais complicado e extensivo. O senhor se preocupa com isso?

Dalai Lama: Não, não é tão difícil. Como um simples monge, não preciso de um sucessor quando eu morrer. Com relação ao papel do Dalai Lama como líder de governo: eu cedi todas as minhas responsabilidades de governo há oito anos, temos um governo eleito, então isso também não é um problema. Isso deixa a questão do sucessor do Dalai Lama como um líder espiritual. Em 1969, eu disse que os tibetanos precisam decidir eles próprios se haverá um 15o Dalai Lama. Eu dei sugestões, mas não posso e não quero me envolver mais do que isso.

WELT ONLINE: O senhor consegue entender que líderes de todo o mundo gostariam de se encontrar com o senhor, mas não o fazem para evitar arriscar suas relações econômicas com a China?

Dalai Lama: Penso que é correto quando um político pesa todas as opções e chega à decisão em que prevalece o interesse da nação. Porém, muitos políticos tornam isso muito fácil para eles mesmos, para eles se trata apenas de que suas próprias empresas ganham o máximo de dinheiro possível. Isso é um grande problema para mim? Na verdade, não. Meu principal interesse é promover valores humanos como harmonia, responsabilidade e caridade. Para fazer isso, preciso falar com as pessoas, não com seus líderes. Se os líderes de governo quiserem se encontrar comigo por motivos espirituais, ficarei feliz de me encontrar com eles. Se não quiserem, então que não o façam, e não há problema nisso. Eu não viajo pelo mundo apenas pelo meu povo e a questão do futuro do Tibete, eu quero alcançar o máximo de pessoas que eu puder.

WELT ONLINE: Este século será marcado pela ascensão da China?

Dalai Lama: A China desenvolveu um imenso poder. É a evidência de como uma economia pode se desenvolver melhor com mais liberdade no nível corporativo. O que está faltando à China, porém, são os valores nos quais a sociedade possa se basear e confiar. Os padrões que eram relevantes antes da revolução comunista já se foram há muito.  E o que tomou seu lugar? Nada além do dinheiro. A elite comunista só pensa em poder e dinheiro, e isso pode ser muito destrutivo.

WELT ONLINE: Religião, estado e economia têm se afastado cada vez mais. O senhor realmente acredita que os líderes religiosos como o senhor e o Papa podem mudar o mundo para melhor?

Dalai Lama: Eu não viajo o mundo como um líder religioso. Sou uma pessoa simples, um simples monge. Claro que eu tenho mais oportunidades porque sou bem-vindo como o Dalai Lama, e porque reuni muita experiência em meus 50 anos de viver no exílio. Essas são experiências que eu posso compartilhar com as pessoas. Mas os princípios morais dos quais estamos falando aqui me conferem uma força interna, e a força interna me dá paz interior. É assim que eu espero chegar nas pessoas.

WELT ONLINE: Como você se sente ficando em hotéis de cinco estrelas quando viaja para fora?

Dalai Lama: Para ser sincero, não me sinto confortável em grandes quartos de hotel. Às vezes penso que poderia ter um fantasma no quarto (risos). É por isso que sempre peço para ser acomodado de forma humilde e simples. 

WELT ONLINE: O senhor não se sente culpado quando fica em acomodações luxuosas?

Dalai Lama: Por que deveria? Quando me sinto bem, posso fazer mais pelos outros. Mas claro que me dói quando vejo pessoas pobres. Uma vez, quando estava indo dormir, em Viena, vi um homem deitado na rua lá fora, e quando acordei de manhã, ele ainda estava ali. Enviei a ele frutas e pão; mesmo sabendo que só calmaria temporariamente a sua miséria.

WELT ONLINE: Quando foi a última vez que o senhor foi injusto?

Dalai Lama: (pensa) Algumas vezes eu perco a paciência, mas depois peço desculpas. Às vezes acontece.

WELT ONLINE: O senhor escreveu livros sobre como a raiva é prejudicial, e ainda assim às vezes fica bravo?

Dalai Lama: É claro. Não se trata de eliminar a raiva, mas de encontrar sua causa e trabalhar para neutralizá-la. Se você não compreender de onde vem a raiva e não agir para neutralizá-la, a raiva crescerá. A raiva é uma emoção destrutiva que se baseia na arrogância. É por isso que devemos encontrar sua causa e contrabalançá-la.

WELT ONLINE: O senhor não tem cartão de crédito nem conta bancária. Há algum objeto de que o senhor realmente precise, objetos sem os quais não poderia viver? Como, por exemplo, seu equipamento doméstico para fazer exercícios?

Dalai Lama: Não, não há nada sem o qual eu não possa viver. Aprendi essa atitude quando era criança.

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