Nossas Relações Denilson Lacerda

As relações de casal são fonte de grande sofrimento em nossa cultura, sobretudo por estarem assentadas sobre dois pilares muito estreitos, o romantismo (apresentado nos filmes de Hollywood) que nos faz acreditar que existe um príncipe ou uma princesa, em algum lugar, que pode nos fazer feliz, quando não pode, e o utilitarismo, que faz com que nossa aproximação para nos conectar com outros seres seja sempre precedida por uma matemática de ganhos e perdas – transformamos as pessoas em recursos, neste caso recursos emocionais.

No entanto é importante lembrar que duas pessoas que se unem são dois mundos, é sempre necessário ressaltar isso. Dois caminhos, duas aspirações e dois conjuntos de sonhos. A grandeza de uma relação está presente quando através dela estes mundos podem ser admirados, empoderados e iluminados. Para andar nessa direção, cabe superar o romantismo e o utilitarismo, desenvolvendo Amor, Compaixão, Alegria e Equanimidade nas relações, e com essas qualidades, reais chances de felicidade.

O Amor genuíno é desejar que o outro seja verdadeiramente feliz, sem estabelecer condições, muito diferente do amor que aprendemos usualmente, onde só coaduno com a felicidade do outro se ele se portar como eu gostaria. Significa também reconhecer e nutrir as sementes das qualidades da pessoa ao meu lado. Isso se dá a partir do entendimento do mundo do outro, da escuta, se entendo o que é importante para o desenvolvimento dela, posso me dedicar para ajudá-la a realizar cada passo.

A Compaixão é desejar que a pessoa não sofra, e se sofrer, que tenhamos a certeza que ela pode sair do sofrimento, e fortalecer esse processo por nunca perder a visão da sua natureza mais profunda e livre. A vida já é bem desafiadora, então nossa companhia não pode acrescentar mais sofrimento a vida do outro, pelo contrário, precisamos oferecer acolhimento.

E tanto maior será nossa força para acolher com Amor e Compaixão nosso parceiro de vida, quanto formos capazes de fazer isso com nós mesmos. É preciso buscar conhecer nossa natureza mais profunda, deixar florescer nosso bom coração, e isso é o mesmo que dizer, se faz necessário trilhar o caminho (aquele que nos leva a descobrir quem somos).

A Alegria genuína é saborear a vida, estar presente. Muito mais poderoso do que uma viagem para Paris é estar presente para o outro no café da manhã diário, disponível, equilibrado, amável, satisfeito com o momento da forma como ele se apresenta. Ser amado é ser reconhecido, e quando se está presente pode-se também reconhecer a presença do outro, e o quão preciosa ela é.

A Equanimidade é quando a felicidade de um é a felicidade do outro. Isso vai aos poucos incluir todas as pessoas, e é o que abre o casal para o mundo. A equanimidade salva-nos do autocentramento, o veneno de todas as relações. O outro é como eu, está em busca de felicidade, quer escapar ao sofrimento. E quando o casamento propicia a compreensão disso, somos capazes de sentir essa responsabilidade e proximidade com todo mundo.

Denìlson Lacerda, praticante de meditação, administrador de empresas e pai da pequena Naomi

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