O que é a felicidade genuína? Entrevista com B. Alan Wallace.

Por mais de três décadas, o estudioso e contemplativo B. Alan Wallace considerou a questão perene sobre o que é a felicidade sob duas perspectivas: a da ciência moderna e a prática de meditação budista tradicional. Estas duas disciplinas estão no coração do Instituto Santa Barbara de Estudos da Consciência , lançado por Wallace há um ano a fim de realizar um rigoroso estudo científico de métodos contemplativos, com a colaboração de pesquisadores consagrados em psicologia e neurociências.

A pesquisa inicial foi co patrocinada pelo Instituto que inclui o Projeto Shamatha , um estudo de longo prazo dos efeitos da shamatha intensiva – tranquilidade – praticada com a cognição e a emoção, e do Programa de Atenção Consciente (PAC), que está avaliando o treinamento da mente para o tratamento de Transtorno de Déficit de Atenção (TDAH) . Cultivando  o Equilíbrio Emocional: um programa, agora,  em fase de experiências clínicas  que combina técnicas de tradição budista e da psicologia ocidental com potenciais aplicações difundidas para os budistas e não- budistas. Tudo isso reforça a missão do instituto em identificar e cultivar os estados mentais associados com o ideal de felicidade e bem-estar. Até agora, a pesquisa parece confirmar o que Wallace e outros praticantes budistas descobriram empiricamente ao longo dos últimos duzentos e cinquenta anos: que a meditação pode não só enfrentar as emoções destrutivas que ficam no caminho da felicidade como também fomentar os fatores positivos que dão origem a isso. A felicidade genuína, como Wallace enfatiza em um novo livro, “Genuine Happiness” (Wiley, 2005) não é fruto de armadilhas mundanas e ambições, e sim de uma mente focada e de um coração aberto.

O editor-chefe da Tricycle, James Shaheen, visitou Wallace em sua casa na Califórnia, próximo ao Instituto Santa Barbara, para discutir o que o budismo e a meditação têm para nos oferecer em nossa busca pela felicidade.

O que é a felicidade genuína? Eu prefiro o termo “florescimento humano”, que é uma tradução da palavra grega eudaimonia. A tradução mais comum é “felicidade genuína”, mas “florescer” é mais apurado. Assim como a noção budista de “sukkha” e “ananda” – felicidade/ alegria em Hindu, florescer é uma sensação de felicidade que está além das vicissitudes momentâneas do nosso estado emocional.  E no que esta felicidade implica? Em uma vida significativa.

O que torna uma vida significativa? Eu considero todos os dias, não apenas a vida como um todo. Eu olho para quatro ingredientes:

 Primeiro, foi um dia de virtude? Estou falando de ética budista básica, evitando um comportamento prejudicial ao corpo, fala e mente, nos dedicando a um comportamento saudável e qualidades como a consciência e a compaixão.

Em segundo lugar, eu gostaria de me sentir feliz ao invés de extremamente infeliz. Os seres realizados que conheci são um exemplo de estados extraordinários de bem-estar, e mostram isto em seus comportamentos, suas maneiras de lidar com as adversidades, com a vida e com outras pessoas.

E em terceiro lugar, a busca pela verdade, procurando compreender a natureza da vida, da realidade, das relações interpessoais ou a natureza da mente. Mas você pode fazer tudo isso sentado tranquilamente em uma sala. Nenhum de nós existe de forma isolada. No entanto, para que haja um quarto ingrediente,  uma vida significativa também deve responder à pergunta:  “Se eu puder olhar para o dia e ver que a virtude, a felicidade, a verdade  e uma  vida altruísta foram fundamentos salientes, eu posso dizer : “Sabe, eu sou um campista feliz .” Buscar a felicidade não depende do meu talão de cheques, do comportamento do meu cônjuge, do meu trabalho  ou do meu salário. Eu posso viver uma vida significativa mesmo que só me restem dez minutos…

Então a saúde física não é um ingrediente necessário? Nem um pouco. Um dos meus ex-alunos tem uma doença muito rara, e todos os dias ele vai para o hospital para fazer diálise e tratamento medicamentoso – o que irá fazer pelo resto de sua vida. Você poderia dizer: “Bem, isso é uma tragédia, uma situação sombria.” Mas da última vez em que falei com ele, ele disse: “Alan, eu estou florescendo.” E ele estava. Ele encontrou uma maneira dentro dos parâmetros muito limitados sobre o que estava disponível para ele. Sua mente está clara. Ele está lendo, crescendo, meditando,  ensinando a meditação para outros doentes terminais em seu hospital. Ele está vivendo uma vida muito significativa em que ele pode dizer, honestamente, que está florescendo.

Qual é o segredo dele? Ele não está procurando a felicidade fora de si mesmo. Quando dependemos de coisas como emprego, um cônjuge ou dinheiro para nos satisfazer, estamos em uma situação infeliz, porque apostamos em algo externo. Além disso, outras pessoas estão competindo pela mesma coisa, e essa “coisa” não é infinita. Esta é a má notícia.

E a boa? A boa notícia é que a verdadeira felicidade não está lá fora, no mercado para ser comprada ou conseguida através do melhor professor disponível. Um dos segredos mais bem guardados é o de que a felicidade pela qual nos esforçamos  tão desesperadamente  através de nosso  cônjuge perfeito, nas crianças formidáveis, no trabalho agradável, na segurança, na saúde excelente e na boa aparência sempre esteve em nosso interior e está apenas esperando para ser revelada . Saber que o que estamos procurando vem de dentro muda tudo. Mas isso não significa que você não vai ter um cônjuge, um carro ou um trabalho satisfatório e sim que você está florescendo. Sua felicidade não depende tanto de eventos externos, pessoas e situações que estão além de seu controle.

Todos já ouviram falar que a riqueza não compra felicidade, mas poucos vivem como se isso fosse verdade. Em um grau mais profundo,  duvidamos disso e tentamos repetidamente assumir o controle de nosso ambiente externo e extrair dele as coisas que achamos que vai nos fazer felizes: posição social, sexo, segurança financeira e emocional. Eu acho que muitas pessoas em nossa sociedade desistiram de buscar a felicidade genuína. Elas perderam a esperança de encontrar a felicidade, a satisfação e alegria na vida. Elas pensam: “Bem, a verdadeira felicidade parece não estar disponível, então eu vou me contentar com um aparelho de som melhor.” Ou elas estão apenas sendo levadas: “Esqueça o prazer. Eu vou apenas tentar sobreviver a este dia.”

 Isto é muito trágico.

Isso soa como depressão. É um estado em que o espaço da mente se comprime e perdemos a visão. Eu penso na benignidade – o primeiro dos “Quatro Incomensuráveis”  ou das “Quatro Moradas Divinas” – como uma busca da visão. Na prática tradicional  maitri (sânscrito para benignidade) você começa com benignidade para si mesmo. Isso não significa “Que tipo de  trabalho bom eu poderia ter? Quanto dinheiro eu poderia conseguir? ” e sim em “Como eu  posso florescer? Como posso viver de forma que eu encontre verdadeiramente um significado gratificante, feliz e rejubilante? ” E como você imagina isso para si mesmo, você amplia este sentimento para fora: “Como pode  que as outras pessoas estejam sofrendo para encontrar a felicidade genuína? “

Shantideva disse: “Aqueles que desejam escapar do sofrimento se apressam indo diretamente em direção a ele. Pelo próprio desejo de felicidade, pela ilusão, eles destroem a própria felicidade como se ela fosse um inimigo” Por que é assim? Por que não adotamos uma vida de virtude que nos traga a verdadeira felicidade que tanto desejamos?  Isto remete à  ideia de que somos tolos em relação ao que realmente nos traz a felicidade que buscamos. Pode ser que leve muito tempo até que percebamos o que está acontecendo, porque nos tornarmos tão obcecados pelo símbolo, pela imagem, pelo ideal, pela construção mental…”Se eu tivesse este cônjuge, este tipo de trabalho, esta quantia de dinheiro..se as pessoas me respeitassem a este ponto, se eu tivesse esta aparência.. “

 É ilusão. Todos nós conhecemos pessoas que têm boa saúde, amor, fama e riqueza  e, ainda assim, são miseráveis. Estas pessoas são alguns dos nossos maiores mestres. Eles nos mostram que você pode ganhar na loteria e perder na loteria da vida, em termos de busca da felicidade genuína.

Se alguém se aproxima do caminho da prática budista  com uma forte ênfase negativa e com a ideia de que o nirvana é apenas livrar-se das coisas, então, à primeira vista, nirvana pode parecer muito chato. Mas nirvana não é apenas erguer-se para o neutro ou para o “nível normal de infelicidade de Freud.”  É muito mais do que isto. E é aí que entramos em contato com esta questão do nosso estado habitual dukkha, de estar insatisfeito, ansioso. Mas a premissa budista, que é extremamente inspiradora , é que o que é verdadeiramente” habitual” é o seu estado natural de consciência, a base da consciência. Esta é uma fonte de felicidade e pode ser descoberta, começando com as práticas meditativas como shamata, a clarificação da atenção e de se conscientizar sobre como as coisas realmente são. A questão toda do Buda-Darma é de que a libertação não vem pela crença no conjunto de princípios corretos ou de afirmações dogmáticas, ou necessariamente, comportando-se da maneira certa. É um “insight”, é sabedoria, é entender a natureza da realidade. E só a verdade nos libertará.

Quando você diz “verdadeira felicidade”, a insinuação é de que existe um outro tipo. Sim. Confundimos o que os budistas chamam de ”As oito preocupações mundanas” com a verdadeira busca da felicidade: a aquisição de riqueza e de não perdê-la; a aquisição de prazeres de estímulo rápido para evitar a dor;  enaltecer e evitar o abuso ou o ridículo e o desejo de uma boa reputação, temendo o desprezo ou a rejeição.  A questão a ser mencionada aqui é a de que não há nada de errado com as coisas do lado positivo. Pense nisso: você seria uma pessoa melhor se não estivesse usando este suéter? Não. Não há nada de errado com aquisições, mas há algo de errado em pensar que elas lhe trarão felicidade. A felicidade genuína consiste simplesmente em dar uma “chacoalhada” nas  verdadeiras causas da felicidade ao invés de coisas que podem ou não catalisá-las. E isto é, basicamente, a diferença entre perseguir o darma e as ”As oito preocupações mundanas”. Algumas pessoas realmente meditam para obedecer as ”as oito preocupações mundanas”, apenas pelo prazer que eles adquirem ao meditar. Eles estão encarando a meditação como quem toma uma xícara de café, ou como quem faz uma corrida ou uma massagem. Isto não é ruim ou errado, mas é muito limitado. A meditação pode fazer algo que uma boa massagem não pode. Ela pode realmente curar a mente.

Em “Genuine Happiness”, você escreve: “Quando estamos passando por alguma insatisfação ou depressão sem uma causa externa clara, quando não há problemas de saúde, problemas no casamento ou outra crise pessoal, poderia ser este um sintoma ou uma mensagem vinda, para nós, através de um nível mais profundo de sobrevivência biológica? Como deveríamos responder? Os antidepressivos querem dizer, basicamente “Cale a boca, eu quero fingir que você não existe.” Mas o que este sentimento está nos dizendo? ” Você pode falar sobre isso? O que estamos falando aqui é dukkha, não no sentido de  “eu me sinto miserável porque eu perdi algo que era precioso para mim” ou “eu não consegui algo pelo qual eu tinha verdadeira paixão” e sim esta camada mais profunda do sofrimento que é não referencial e nem orientada por estímulo. Há momentos em que, mesmo na ausência de estímulos desagradáveis​​, você ainda tem uma sensação de desconforto, de depressão, de inquietação, de que algo não está certo, mas você não consegue identificar o que é. Este é um dos sintomas mais valiosos que temos da disfunção subjacente de nossas mentes. Uma vez que você sentir que está se prendendo a isto, talvez você diga: ” Eu não gosto desse sentimento  e  vou  encobri-lo. Eu vou me perder no trabalho, na diversão, nas bebidas e nas drogas.” Esta sociedade é a mais habilidosa na história  em abafar esta sensação básica de mal-estar.

Nós estamos dentro de uma fadiga química. Eis aqui um sintoma de uma vida que não está funcionando muito bem, de uma mente que está propensa a desequilíbrios e aflições, e ao invés de usarmos isto como um sintoma de boas-vindas, nós basicamente matamos o mensageiro. A indústria farmacêutica diz que, se você se sentir ansioso, deprimido, triste ou com raiva, é por causa de um desequilíbrio químico no cérebro. “Use  o nosso medicamento prescrito e isso vai fazê-lo feliz.” A desvantagem destes medicamentos é que muitas pessoas pensam que as más experiências têm, essencialmente, uma base material, onde um desequilíbrio químico é a origem da causa. Em outras palavras, a “Segunda Nobre Verdade,”  a causa do sofrimento, é o desequilíbrio químico no cérebro e, portanto, a cessação do sofrimento significa que ele deva ser anestesiado. O que isto está fazendo é disfarçando o nosso compromisso com a realidade ao invés de chegar às raízes da depressão e da ansiedade. O que você está enfrentando é a “Primeira Nobre Verdade”. E Buda diz: ” Não basta fazê-lo calar a boca, mas reconhecê-lo, compreendê-lo.” Este é o início do caminho para a felicidade.

 Os existencialistas entenderam que estamos perseguimos a felicidade em vão. Como os budistas se diferem? No budismo , buscar a felicidade não é apenas se afastar de algo – a aquisição de objetos – mas mover-se em direção a outras, como a prática do darma. É desembaraçar-se das fontes reais do dukkha , que são internas , e mover-se em direção a uma liberdade maior, um bem-estar mental, um maior equilíbrio e significado. Na filosofia existencialista, isto refere-se a “viver autenticamente.” Afastar-se das verdadeiras fontes do dukkha em direção às verdadeiras fontes de felicidade  é , basicamente, toda a psicologia budista colocada ali mesmo.

Temos uma percepção equivocada de que se conseguirmos que tudo funcione bem,  encontraremos a felicidade que buscamos. Então chega um momento em que você diz: “Sei. Isto nunca funcionou. Não está funcionando agora e nunca vai funcionar no futuro.” Isso é o que muitos filósofos existencialistas reconheceram. Camus, Sartre… eles se referem à vaidade,  futilidade e insignificância  fundamental. O budismo, como os existencialistas, vê a vaidade, a futilidade e o vazio das ”As oito preocupações mundanas”. Mas não basta dizer: “Eis  um problema e não há nada que possamos fazer sobre isto.” Ele diz: “Estas são as preocupações mundanas, e depois há o darma. Ter um pouco de fé seria útil, mas se não há mais nada, você ainda tem a prática “

Você argumenta que a prática nos mantém no mundo e isto é um grande desafio. Por exemplo, muitos de nós vemos o noticiário e é fácil ficar bem deprimido. Como podemos ficar no jogo sem sermos derrubados por ele? A primeira coisa é reconhecer que nem todas as notícias estão aptas para serem impressas ou transmitidas. Elas estão acontecendo em um contexto 100% comercial. Eles estão transmitindo estas notícias porque estão sendo pagos por seus anunciantes. E eles estão nos dando as notícias que vendem, que eles acham que as pessoas gostariam de assistir. É uma fatia muito seletiva sobre o que está acontecendo. Isso não quer dizer que não existam pessoas na mídia tentando prestar um serviço público, mas o próprio sistema é comercialmente direcionado. No budismo, dizemos que sim, há um oceano de sofrimento. Portanto, não é ruim mostrar que há raiva, ódio, ilusão e ganância no mundo. De certo modo, a mídia está apresentando alguns fatos muito importantes, tendo em conta que podemos olhar para as diferentes respostas emocionais em nós mesmos. Podemos sair da rotina do nosso cinismo, depressão, raiva e apatia cultivando os “Quatro Imensuráveis​​.” Quando vemos o sofrimento e as causas dele,  então é hora de compaixão.

Quando vemos as pessoas se esforçando diligentemente para encontrar a felicidade, é um momento de benignidade. Essa rara compreensão onde eles mostram algo maravilhoso que tem acontecido é um momento de alegria para a mudita –  para a alegria empática, pela alegria  da felicidade de outras pessoas e pela virtude. E, então, há as circunstâncias como os desastres naturais. Quando vemos que existem pessoas responsáveis ​​e instituições que fazem o seu melhor para aliviar o sofrimento, podemos decidir manter a equanimidade e, em seguida, realizar a  prática do tonglen (dar e receber): levar embora o sofrimento do mundo e oferecer de volta a alegria e suas causas. Os “Quatro Imensuráveis” ​​são maneiras extraordinariamente poderosas de se envolver com a realidade. E eles se equilibram. Eles são como os Quatro Mosqueteiros: quando alguém se perde, os outros saltam e dizem: “Eu posso ajudá-lo.”

Então, se você está sentindo indiferença ao invés de equanimidade, a compaixão vai equilibrar isto? Precisamente. Ou se você se encolheu e se atracou à ansiedade, então este é um momento de equanimidade.

Esta rota alternativa para a felicidade parece exigir um salto de fé, e isso pode ser assustador. Se eu me livrar de todas as aparências, o que será de mim? Nós não precisamos saltar para o fundo do poço. Os tibetanos chamam isso de “renúncia cabeluda.” É como se de repente estivéssemos apaixonados e disséssemos:  “Ah, toda a sociedade é um abismo de fogo ardente. Eu não posso suportar isso. Eu vou sair para o êxtase de praticar o budismo.” É chamado cabeludo porque é melhor eu raspar minha cabeça para mostrar que eu estou falando sério. Então, é claro, em um ou dois dias ou em algumas semanas, você diz: “Isto não é muito divertido…e onde é que está a namorada que eu deixei para trás, mesmo?” É como uma folia. Então, o que é necessário não é um abandono repentino , abrupto e total dos oito darmas mundanos (”As oito preocupações mundanas”) e a prática apenas do darma sublime. É como jogar uma criança na água para ensiná-la a nadar: você não vai arremessar a criança no fundo da água e ver o que acontece. Você vai levá-la primeiro para a parte rasa.

Então, tente um período de teste . Tente uma sessão de meditação pela manhã e outra à noite. Veja como isso afeta o resto do seu dia. Então, quando você começar a ter um gostinho do dharma, você pode dizer: “Bem, isto está realmente tocando meus recursos internos. Isto é bom. E não é apenas bom, é também virtuoso. E mais: estou interagindo com a realidade de forma mais clara do que eu estava no passado. Se eu quiser trazer algo de bom para o mundo , eu estou em uma posição melhor para fazê-lo.”  É uma mudança gradual nas prioridades até que finalmente o seu desejo primário, o seu valor mais alto, seja o de  viver uma vida significativa , dedicando-se ao darma . As “Oito Preocupações Mundanas,”  elas  vêm e vão. Na verdade, quando estão lá, elas podem até mesmo apoiá-lo em sua vida.

Como um combustível para a usina? Elas não são necessariamente um combustível para a usina, mas a adversidade nos fornece uma oportunidade se não houver um compromisso sensato com ela. Por exemplo, um dos maiores obstáculos para uma vida significativa é a arrogância. Bem, é realmente difícil ser arrogante quando você está em uma grande adversidade . Então, existe este mal-estar sobre o qual temos falado, se observarmos que, com sabedoria, podemos despertar a nossa curiosidade ou até mesmo buscar um poderoso incentivo para uma transformação, para podermos arrancar as causas que deram origem a tal aflição. Se você já passou por um terrível conflito interpessoal, uma perda ou uma crise financeira, por exemplo, você pode olhar para isto e dizer: “Como isto aconteceu? O que eu fiz para contribuir com isto? E por que eu estou sofrendo tanto agora?” Estas são mensagens, sintomas de uma discórdia subjacente, um desligamento da realidade, um escape para a ilusão, o ódio e o desejo. Eu acho que os “Três Venenos” são tão importantes para a compreensão da situação humana como as três leis de Newton são para a compreensão do universo físico. E quando você vê o quão importante é o darma  em face da adversidade, então ele se torna uma prioridade. Você deixa que ele  sature a sua vida. É quando o darma realmente revela seu poder: quando ele não está confinado a uma sessão de meditação aqui ou ali.

 O que me leva à sua visão de que o auge da prática do Buda não foi a iluminação sob a árvore de Bodhi e sim o serviço prestado aos outros. Eu acredito que Buda alcançou algo absolutamente extraordinário sob a árvore Bodhi , mas reconheceu que, se este evento era para ser tão significativo quanto possível , tinha que ser compartilhado com os outros. A iluminação não é algo apenas para si mesmo: ” Agora eu tenho as coisas boas, e, portanto, finalizei por aqui.”

Civilizações inteiras foram transformadas pela presença deste homem, mas não foram  apenas os 49 dias sentado debaixo da árvore de Bodhi que fizeram isto. Foram os 45 anos seguintes,  envolvendo-se com cortesãs, mendigos, reis e guerreiros – toda a gama da sociedade humana – e tendo algo a oferecer para todos. Então, se voltarmos aos quatro aspectos de uma vida significativa, o que aconteceu sob a árvore de Bodhi é claramente o ponto culminante da virtude, da felicidade e da verdade. E pelos próximos 45 anos ele esteve lá fora, trazendo algo de bom para o mundo. Então, eu diria que Buda é o paradigma de uma vida significativa.

 B. Alan Wallace – Matéria Traduzida da Revista Tricycle

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“A felicidade genuína é o sintoma de uma mente saudável e equilibrada, assim como o bem-estar físico é o resultado de um corpo saudável. Entre as pessoas do mundo moderno, predomina a noção de que o sofrimento faz parte da vida, que é simplesmente normal experienciar frustração, depressão e ansiedade. Nosso sofrimento mental, porém, em muitas ocasiões não tem razão alguma de ser. Ele representa uma aflição sem benefício algum para nós. É somente o sintoma de uma mente desequilibrada.

Em nossa busca constante pela felicidade, é importante que reconheçamos como algumas coisas no mundo estão fora do nosso controle. As outras pessoas – família, amigos, colegas de trabalho e estranhos – se comportam como querem, de acordo com suas próprias ideias e objetivos de vida. Da mesma forma, não há muita coisa que possamos fazer para controlar a economia, as relações internacionais ou o ambiente natural. Portanto, se basearmos nossa busca da felicidade na nossa habilidade de influenciar outras pessoas e o mundo de um modo geral, é quase certo que o fracasso será total. Então, o que podemos controlar? Que tipo de liberdade temos aqui e agora? Nosso primeiro ato de liberdade deve ser o de estabelecer claramente nossas prioridades.”

“A busca pela felicidade genuína e pela superação do sofrimento não é uma busca trivial. Não é uma questão de sorte. Tem a ver com a própria natureza da realidade. Examine com profundidade as causas que o levaram à delusão no passado e que estabeleceram a base da ignorância.”

– Alan Wallace no livro “A Revolução da Atenção”

 “Pessoas que, de forma geral, são felizes, que mantêm um sentimento de bom humor, de ânimo e de bem-estar, são aquelas que encontram muitas pequenas coisas ao longo do dia com as quais se alegrar. Por outro lado, episódios ocasionais de experiências drasticamente positivas, como ganhar na loteria ou alcançar um objetivo muito importante, como ter sucesso em um grande investimento, têm pouco impacto sobre a sensação geral de bem-estar das pessoas. Assim, cultivar a alegria empática pode, de fato, pouco a pouco, inundar sua vida de felicidade.”

– Alan Wallace no livro “Felicidade Genuína” 

B. Alan Wallace é um dos mais prolíficos autores e tradutores do budismo tibetano no Ocidente. Foi monge budista durante quatorze anos nas décadas de 70 e 80. Mais tarde, recebeu o título de Ph.D. pela Universidade de Stanford e atualmente dirige o Instituto Santa Barbara para Estudos da Consciência. Têm diversos livros traduzidos para o português, dentre eles o recém lançado pela Lúcida Letra: ”Felicidade genuína: meditação como o caminho para a realização”.

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