Distinção entre o que fazemos e o que somos e a ignorância da raiva

“Somos todos como atores em uma peça de teatro que se confundiram com suas personagens; por isso, vemos uns aos outros como amigos ou inimigos. Uma vez que compreendamos isso, é irrelevante se as pessoas são conhecidas ou desconhecidas, feias ou bonitas, amáveis ou não.

Em vez de classificar as pessoas, podemos aprender a superar os limites da nossa compaixão e a tratar todos os seres com a mesma bondade, com paciência e compaixão, ao invés de raiva ou apego.”

Chagdud Tulku Rinpoche

O apego e a raiva são dois lados da mesma moeda. Por causa da ignorância e da divisão da mente na dualidade sujeito-objeto, nos agarramos a coisas que percebemos como externas a nós, ou então tentamos nos afastar delas. Quando encontramos algo que desejamos e que não podemos conseguir; ou quando alguém nos impede de alcançar aquilo que dissemos a nós mesmos que precisávamos ter; ou quando acontece algo que não se ajusta à maneira como gostaríamos que as coisas fossem, sentimos raiva, aversão ou ódio. Essas respostas, porém, não trazem benefício algum; elas apenas prejudicam. Com a raiva, e também com o apego e a ignorância – os três venenos da mente – geramos  sofrimento sem fim.

Diz-se que não há mal que se compare à raiva: por sua própria natureza, a raiva é destrutiva, um inimigo. Dado que nem uma gota de felicidade jamais nasce dela, a raiva é uma das potentes forças negativas.

A raiva e a aversão podem levar à agressão. Quando prejudicadas, muitas pessoas sentem que devem retaliar, cobrando olho por olho. É uma resposta natural. “Se alguém me xinga, dou o troco e xingo também. Se alguém me dá um soco, leva outro de volta. É o que a pessoa merece”. Ou, ainda pior: “Esse indivíduo é meu inimigo. Se eu o matar, vou ficar feliz!”

Não damos conta que, se temos tendência à aversão e à agressão, os inimigos começam a aparecer por todos os lados. Encontramos cada vez menos coisas para gostar nos outros e cada vez mais coisas para odiar. As pessoas começam a nos evitar e ficamos mais isolados e solitários. Às vezes, enfurecidos, cuspimos palavras ásperas e ofensivas. Os tibetanos têm um ditado: “As palavras podem não carregar armas, mas ferem o coração”. Nossas palavras pode ser extremamente danosas, tanto pelo mal que causam aos outros quanto pela raiva que despertam. Com freqüência, estabelece-se um ciclo: uma pessoa sente aversão por outra e diz alguma coisa que a fere; a outra pessoa reage, dizendo algo fora do esquadro. As duas começam a pôr lenha na fogueira uma da outra, até que estejam travando uma batalha de palavras iradas. Sem dúvida, isso pode ser transposto para o nível nacional e internacional, onde grupos de pessoas se envolvem em agressão contra outros grupos e nações são jogadas contra nações.

Quando você deixa a aversão e a raiva tomarem conta de você, é como se, tendo decidido matar uma pessoa jogando-a em um rio, você se agarrasse ao pescoço dela, pulasse na água e os dois morressem afogados. Ao destruir seu inimigo, você também se destrói.

É muito melhor dissipar a raiva antes que ela possa conduzir a um conflito maior, respondendo a ela com a paciência. Compreender a responsabilidade que temos por aquilo que nos acontece ajuda a fazer isso. Tratamos nossa ligação com alguém que percebemos como um inimigo como se saída do nada. Mas, em alguma existência passada, talvez tenhamos usado palavras duras com aquela pessoa, maltratando-a fisicamente ou abrigando pensamentos raivosos em relação a ela. Em vez de procurarmos os defeitos dos outros, dirigindo nossa raiva e aversão contra situações que pensamos estar no ameaçando, deveríamos lidar com o verdadeiro inimigo. Esse inimigo, que destrói nossa felicidade a curto prazo e nos impede, em uma perspectiva mais longa, de alcançar a iluminação é a nossa própria raiva e aversão. Se a vencermos, não haverá mais brigas, pois deixaremos de perceber como inimigos os nossos oponentes – um grande retorno por pouco esforço. Tanto nós quanto eles teremos cada vez menos probabilidades de reincidir em situações que possam levar a um conflito. Todos saem ganhando.

Nossa tendência habitual é fazer contemplação, mas de maneira contraproducente. Se alguém nos insulta, geralmente ficamos remoendo o assunto, perguntamo-nos, “Por que ele me disse isso?”, vez após vez. É como se tivesse atirado uma flecha contra nós, mas o tiro saísse curto. Concentramo-nos no problema é como apanharmos a flecha e cravá-la em nosso peito repetidas vezes dizendo, “Ele me magoou tanto. Não consigo acreditar que fez isso”.

Um outra opção é usar o método da contemplação para refletir sobre as coisas de modo diferente, para modificar nosso hábito de reagir com raiva.

De início, como é difícil pensar com clareza em meio a uma discussão, começamos a praticar em casa, sozinhos, imaginando confrontos e novas formas de responder a eles. Imagine, por exemplo, que uma pessoa o insulte. Ela está enojada de você, dá-lhe um tapa ou ofende você de algum modo. Você pensa, “O que devo fazer? Vou me defender – vou retaliar. Vou expulsar essa pessoa da minha casa”. Agora, experimente outra atitude. Diga a si mesmo, “Essa pessoa me deixa com raiva. Mas o que é raiva? É um dos venenos da mente que gera sofrimento intenso. Contrapor raiva à raiva é como ir atrás de um louco que pula de um precipício. Será que tenho que fazer o mesmo? Se é insano da parte dele agir como age, é ainda mais insano da minha parte agir do mesmo modo”.

Lembre-se de que aquelas pessoas que agem de forma agressiva com relação a você estão apenas comprando o próprio sofrimento, criando, por ignorância, condições mais difíceis para si mesmas. Pensam estar fazendo o que é melhor para si, estar corrigindo algo errado ou impedindo que o pior aconteça. Mas a verdade é que esse comportamento não traz benefício algum. Em muitos aspectos, é como alguém que está com dor de cabeça e bate na própria cabeça com um martelo para tentar parar a dor. Em sua infelicidade, põe a culpa nos outros, os quais, por sua vez, ficam com raiva e brigam, apenas piorando a situação. Quando consideramos a condição difícil em que se encontram, damo-nos conta de que essas pessoas deveriam ser objeto de nossa compaixão, e não de raiva ou crítica. Então aspiramos fazer tudo o que está ao nosso alcance para protegê-las de mais sofrimento, como faríamos com uma criança que sempre se mete em travessuras, fugindo o tempo todo para a rua e que nos bate e arranha quando tentamos trazê-la de volta. Em vez de desistirmos daqueles que agem mal, precisamos compreender que estão procurando a felicidade, mas não sabem como encontrá-la. O papel de inimigo não é permanente. A pessoa que o fere hoje pode se ternar seu melhor amigo amanhã. O seu inimigo de hoje pode mesmo ter sido, em uma vida passada, a pessoa que lhe deu à luz, a mãe que alimentou e cuidou de você. Ao contemplarmos esses aspectos desse modo e repetidamente, aprendemos a reagir à agressão com compaixão e a responder à raiva com bondade.

Um outro método que podemos empregar é ganhar consciência da qualidade ilusória da nossa raiva e do objeto da nossa raiva. Se, por exemplo, alguém lhe diz, “Você é um indivíduo mau”, pergunte-se, “Será que isso me faz ser mau? Se eu fosse um indivíduo mau e alguém dissesse que eu era bom, isso faria de mim um indivíduo bom?” Se alguém diz que carvão é ouro, ele passa a ser ouro? As coisas não se transformam apenas porque alguém diz isto ou aquilo. Por que levar essas palavras tão a sério?

Sente-se em frente de um espelho, olhe para sua imagem e insulte-a: “Você é feio. Você é mau.” Em seguida, elogie-a: “Você é bonito.Você é bom.” Independentemente do que você diga, a imagem permanece simplesmente o que ela é. Elogios e críticas não detém poder algum de nos ajudar ou prejudicar.

À medida que praticamos desse modo, começamos a compreender que as coisas são desprovidas de solidez, como um sonho ou uma ilusão. Criamos um estado mental mais espaçoso – um estado que não é tão reativo. Então, quando a raiva aparece, em vez de responde imediatamente, podemos olha para ela e perguntar: “O que é isso?O que está me fazendo ficar vermelho e tremer? Onde está?” O que descobrimos é que a raiva não tem substância, que não é uma coisa que possa ser encontrada.

Assim que nos damos conta de que não conseguimos encontrar a raiva, podemos deixar a mente em repouso. Não reprimimos a raiva. Apenas deixamos a mente repousar em meio a ela. Podemos ficar com a própria energia – simples e naturalmente, permanecendo cientes dela, sem apego e aversão. Então constatamos que a raiva, assim como o desejo, na realidade não é o que pensávamos ser. Começamos a ver sua natureza e a compreender a sua essência, que é a sabedoria semelhante ao espelho.

Fazer isso pode soar fácil, mas não é. A raiva nos estimula e nós voamos – de um jeito ou de outro. Voamos em nossa mente, voamos para um julgamento, voamos para uma reação, voamos para isto ou aquilo, nos envolvendo com o que nos contrariou. Nosso hábito de revidar dessa forma vem sendo reforçado vez após vez, vida após vida. Se nossa compreensão da essência da raiva for apenas superficial, vamos verificar que não seremos capazes de aplicá-la a situações da vida real.

Há um famoso conto folclórico tibetano sobre um homem que estava meditando em retiro. Alguém veio vê-lo e perguntou, “Em que você está meditando?”
“Na paciência”, disse ele.
“Você é um idiota!”
Isso deixou o meditador furioso e ele imediatamente começou uma discussão – o que mostrou exatamente quanta paciência ele tinha.

Somente pela aplicação sistemática e contínua desses métodos, dia após dia, mês após mês, ano após ano, é que conseguiremos dissolver nossos hábitos arraigados. O processo pode levar algum tempo, mas nós, sem dúvida, iremos mudar. Veja com que rapidez mudamos em termos negativos. Estamos felizes e, então, alguém diz ou faz algo, e logo ficamos irritados. Mudar de modo positivo requer disciplina, esforço e paciência. A palavra “meditação” em tibetano (gom), vem da mesma raiz do verbo “familiarizar-se” ou “aclimatar-se”. Utilizando vários métodos, nós nos familiarizamos com outros modos de ser.

Há uma expressão: “Até um elefante pode ser domado de diferentes maneiras.” Quando ferrões e ganchos são empregados com habilidade, esse animal enorme e potente pode ser conduzido com bastante delicadeza. Diz-se que quando os elefantes são enfeitados para ocasiões festivas, tornam-se dóceis, caminhando como se pisassem sobre ovos. Ou, se estão no meio de um multidão, os elefantes deixam-se facilmente controlar. Portanto, uma coisa que é grande e pesada pode, com os meios adequados, vir a ser manipulada satisfatoriamente. Do mesmo modo, a mente, muitas vezes insubmissa e tempestuosa, pode ser pacificada com meios hábeis.

A diferença entre como uma pessoa mundana encara a vida e como um praticante espiritual o faz, está em que aquela sempre olha para os fenômenos como se olhasse através de uma janela, julgando a experiência externa; ao passo que este usa a experiência como um espelho para, repetidamente, examinar sua própria mente em minucioso detalhe – para determinar onde se encontram os pontos fortes e os fracos, como cultivar os primeiros e eliminar o últimos.

Não precisamos de uma vidente para nos dizer qual vai ser a nossa experiência no futuro – precisamos apenas olhar para a nossa própria mente. Se temos um bom coração e a intenção de ajudar os outros, estaremos encontrando felicidade continuamente. Se, ao contrário, a mente estiver preenchida por pensamentos autocentrados e mundanos, ou com raiva e intenções maldosas em relação aos outros, estaremos encontrando apenas experiências difíceis.

Se examinarmos a nossa mente, vez após vez, continuamente aplicando antídotos para os venenos que surgem, iremos lentamente ver mudanças. Apenas nós mesmos podemos realmente saber o que está acontecendo em nossa mente. É fácil mentir para os outros. Podemos fingir que um saco de couro grosso está cheio, mas assim que alguém se sente sobre ele saberá se está cheio de fato.

De igual modo, podemos nos sentar por horas na postura de meditação, mas, se pensamentos vindos dos venenos circulam pela mente o tempo todo, estaremos apenas fingindo fazer prática espiritual. Em lugar disso, podemos ser honestos conosco mesmos, assumindo a responsabilidade pelo que vemos em nossa mente, em vez de julgar os outros, e aplicando o corretivo apropriado para mudar.

Capítulo 3 do livro ”Portões da Pratica Budista” de Chagdud Tulku Rinpoche


Há um velho koan sobre um monge que foi até seu mestre e disse:
– Sou uma pessoa com muito raiva. Quero que você me ajude.
O mestre falou:
– Me mostre sua raiva.
O monge respondeu:
– Bem, no momento não estou nervoso. Não posso mostrá-la.
E o mestre:
– Então, obviamente, isso não é você, já que às vezes a raiva nem está aí.
Quem somos tem muitas faces, mas essas faces não são aquilo que somos.


”Imagine-se andando com os braços carregados de compras do supermercado.Então, alguém grosseiramente colide, fazendo você e as compras caírem no chão. Assim que você se levanta da poça de ovos quebrados e massa de tomate, está pronto para gritar: “Imbecil! O que há de errado com você? Está cego?”. Mas antes mesmo que possa tomar fôlego para falar, você vê que a pessoa realmente é cega. Ele, também, está esparramado na poça. Sua raiva some em um instante, para ser substituída por preocupação bondosa: “Você está machucado? Deixe eu te ajudar”. Nossa situação é como essa. Quando claramente compreendemos que a fonte da desarmonia e dor no mundo é a ignorância, podemos abrir a porta da sabedoria e compaixão. Então, ficamos em uma posição adequada para curar a si mesmo e aos outros.” B. Alan Wallace, em “Tibetan Buddhism from the Ground Up”


O perdão é uma parte essencial de uma atitude compassiva, mas é uma virtude facilmente mal compreendida. Para começar, perdoar não é o mesmo que esquecer. Afinal, se alguém esquecer um mal que foi cometido, não sobra nada para perdoar! Em vez disso, o que estou sugerindo é que encontremos uma maneira de lidar com os atos errados para termos paz mental e, ao mesmo tempo, evitar que caiamos nos impulsos destrutivos como o desejo de vingança.

[…] parte do que é requerido é uma aceitação de que o que está feito está feito. Tanto no nível individual quanto da sociedade como um todo, é importante reconhecer que o passado está além do nosso controle. O modo como reagimos aos atos errados passados, no entanto, não está.

Como já mencionei, é vital manter em mente a diferença entre o ator e o ato. As vezes isso pode ser difícil. Quando nós mesmos ou aqueles muito próximos de nós foram vítimas de crimes terríveis, pode ser difícil não sentir ódio pelos perpetradores desses crimes. Ainda assim, se pararmos para pensar sobre isso, compreendemos que diferenciar entre um ato terrível e seu perpetrador é na verdade algo que fazemos todo dia em relação a nossas próprias ações e nossas próprias transgressões.

Em momentos de raiva ou irritação, podemos ser rudes com pessoas amadas ou agressivos com os outros. Depois, podemos sentir remorso ou arrependimento, mas ao recordarmos de nossa explosão, não deixamos de diferenciar entre o que fizemos e o que somos. Nós naturalmente perdoamos a nós mesmos e talvez nos determinemos a não fazer a mesma coisa de novo.

Já que achamos tão fácil nos perdoar, certamente podemos estender a mesma cortesia aos outros! Obviamente, nem todos conseguem se perdoar, e isso pode ser um obstáculo. Para tais pessoas, pode ser importante praticar a compaixão e o perdão em relação a elas mesmas, como uma fundação para praticar a compaixão e o perdão para os outros.

“Beyond Religion”, Dalai Lama.

A Parábola da sogra

Há algum tempo ouvi a história de um homem e uma mulher que moravam na China […]. Eles haviam acabado de se casar e, quando a noiva se mudou para a casa do marido, ela imediatamente começou a brigar com a sogra por causa de pequenas questões caseiras. Aos poucos, as diferenças aumentaram, até que esposa e sogra não suportavam sequer olhar uma para a outra.

[…] Não havia nenhum motivo real para que a raiva tivesse crescido daquela forma. Mas, um dia, a esposa ficou tão furiosa com a sogra que decidiu que precisava tomar alguma providência para tirá-la do caminho. Então, foi ao médico e pediu um veneno para colocar na comida da sogra.

Ao ouvir as reclamações da jovem esposa, o médico concordou em vender o veneno. “Mas”, ele advertiu, “se eu lhe desse algo forte e com efeito imediato, todos apontariam o dedo para você e diriam: ‘Você envenenou sua sogra’ e eles também descobririam que você comprou o veneno de mim, o que não seria bom para nenhum de nós. Então, vou lhe dar um veneno mais suave que terá um efeito bem gradual, de forma que ela não morrerá imediatamente”.

Ele também a instruiu que, enquanto estivesse dando o remédio, deveria tratar a sogra muito, muito bem. “Sirva todas as refeições com um sorriso”, ele aconselhou. “Diga que você espera que ela goste da comida e pergunte se ela quer que você faça mais alguma coisa. Seja muito humilde e doce para que ninguém suspeite de você.”

Ela concordou e levou o veneno para casa. Na mesma noite, começou a colocar o veneno na comida da sogra e, muito educadamente, lhe ofereceu a refeição. Depois de alguns dias sendo tratada com tanto respeito, a sogra começou a mudar sua opinião sobre a esposa do filho. “Talvez ela não seja tão arrogante assim”, a velha mulher pensou. “Talvez eu tenha me enganado a respeito dela”. E, aos poucos, começou a tratar a nora com mais gentileza, elogiando as refeições e a forma como ela administrava o lar e até conversando e contando piadas.

À medida que a atitude e o comportamento da mulher mudavam, o da jovem também. Depois de alguns dias, ela começou a pensar: “Talvez minha sogra não seja tão ruim quanto imaginei. Na verdade, ela até parece ser uma pessoa muito boa.”

Isso continuou por cerca de um mês, até que as duas mulheres passaram a ser boas amigas. E começaram a se dar tão bem que, em um determinado momento, a moça parou de envenenar a comida da sogra. E, então, começou a se preocupar porque percebeu que já havia colocado tanto veneno em cada refeição que a sogra poderia morrer.

Assim, voltou ao médico e disse: “Cometi um erro. Na verdade, minha sogra é uma pessoa muito boa. Eu não deveria tê-la envenenado. Por favor, me ajude e me dê um antídoto para o veneno”.

O médico ficou em silêncio por um momento depois de ouvir a moça. “Sinto muito”, ele lhe disse. “Não tenho como ajudá-la. Não existe um antídoto”.

Ao ouvir aquilo, a moça ficou terrivelmente abalada e começou a chorar, jurando que se mataria.

“Por que você iria querer se matar?”, o médico perguntou.

A moça respondeu: “Porque envenenei uma boa pessoa e agora ela vai morrer. Eu deveria tirar minha própria vida para me punir pelo ato terrível que cometi”.

Mais uma vez, o médico ficou em silêncio por um momento e então começou a rir.

“Como você pode rir desta situação?”, a moça lhe perguntou, indignada.

“Porque você não precisa se preocupar com nada”, ele respondeu. “Não existe um antídoto para o veneno porque nunca lhe dei veneno algum. O que lhe dei foi uma erva inofensiva”.

Gosto dessa história porque é um exemplo simples de como uma transformação natural da experiência pode ocorrer com tanta facilidade. […] Como pessoas, elas não mudaram em nada. A única coisa que mudou foi sua perspectiva.

Yongey Mingyur Rinpoche  no livro ‘Alegria de Viver”


“Nenhuma experiência dura muito. Mas a sustentamos com nossos conceitos e emoções; nos agarramos nela, revolvendo-a em nossa mente. Quando isso acontece, é preciso mudar a direção de nossos pensamentos. Se percebemos que nos fixamos no fato de alguém nos ter feito mal, voltamos nossa mente para a compaixão, pensando: “Ele pode ter me ferido, mas, perdido na projeções de sua mente confusa e iludida, na verdade ele se prejudicou em vez de se beneficiar, contrariando seu próprio desejo de felicidade”. ––Chagdud Tulku Rinpoche

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